sábado, 15 de outubro de 2011

Crónica de uma patrocinada eutanásia colectiva

É preciso recuar, pelo menos, 37 anos para encontrar alguém que tenha feito algo pelo País com algum altruísmo, neste caso concreto a revolução de Abril foi um episódio que mudou a face de Portugal, com excelentes intenções, mas de duvidosa evolução. Antes disso, só mesmo o regicídio e a consequente implantação da República. Ora, em exactamente 101 anos de história parece-me muito pouco e por aí se pode perceber porque é que chegámos a esta nefasta encruzilhada.
Desde 74 que não encontro um Governo que tenha decidido dar um rumo sustentado ao país, reunindo-se com a oposição e sociedade civil, agregando-as a uma necessidade nacional, para definirem, conjuntamente, as traves mestras para a Educação, para a Saúde, para a Justiça, para a Segurança Social, para a Economia, para as Finanças, para a Agricultura e Pescas, para a Defesa, etc.
Em 37 anos o que temos visto constantemente é que entram uns, desfazem o que está feito e fazem de novo, consumindo 10 vezes mais recursos. Não porque esteja mal, mas porque não é ideologicamente aceite pela partido que acabou de tomar posse. E não saímos disto.
Mas quem tem culpa não são os políticos, porque eles não chegam ao poder sozinhos. A culpa é inteiramente nossa porque há muito tempo que nos exonerámos da nossa responsabilidade, da nossa força, da nossa intrínseca exigência. É o tão português deixa andar. E dou um exemplo: Quando há eleições, o que fazem cerca de 40% dos portugueses? Abstêm-se. Alguns têm alguma razão para isso e estão no seu pleno direito, mas a grande maioria prefere ir para a praia porque "não percebe nada de política". Há portanto muita abstenção inconsciente, que se funde com a nossa própria inconsciência colectiva, senão vejamos: Somos o país dos fura-greves, dos chicos-espertos, das fugas ao fisco, dos contornos à lei, das off-shores, etc. No fundo somos um povo com uma desonestidade intelectual gritante e por isso mesmo atravessamos crises atrás de crises, sem que ninguém, mas mesmo ninguém, tenha o desiderato de pôr termo, de uma vez por todas, a este modo de vida. A abstenção inconsciente é apenas mais uma idiossincracia do povo no qual nos incluímos.

Hoje é dia de manifestação global, dos "indignados". Não ponho em causa a intenção que até me parece boa, mas parece-me curto e dou exemplos concretos: Em 37 anos existiram manifestações para todos os gostos e eu pergunto: "quais foram aquelas que mudaram alguma coisa?" Que me lembre só a da PGA (que eu até estive presente) e uma ou outra mais. O que é que têm em comum? O facto de as mudanças propostas nas ditas não serem especialmente fracturantes no seio do país. Na da PGA não era para o Ministério da Educação especialmente importante a PGA, por isso, assim que houve manifestações estudantis a querer acabar com esse modo de avaliação, o Ministério cedeu sem grandes dificuldades.
O que acho mais estranho é que se queira comparar estas manifestações com o Maio de 68. Pode ser da minha avaliação -  e o tempo dirá se tenho ou não razão -, mas parece-me simplesmente abusivo.
Aliás a minha ideia até é bem contrária e tal como previ que depois da manifestação da "geração à rasca" não se iria passar nada, nem em termos de mudanças sociais (que ainda pioraram), nem em termos de sociedade civil, não se passou efectivamente nada. E não fosse uma manifestação global com génese noutro país e muito provavelmente o 15 de Outubro seria um dia, inusitadamente solarengo, mas como tantos outros dias dos ano.
Os sucessivos governos não sentem necessidade de mudar porque a pressão que o povo faz é curta. Manifesta-se durante um dia (ao Sábado!) e depois fica sem "abrir a boca" durante vários anos. É assim, pelo menos, que nos têm habituado este tipo de movimentos. São apenas Fogachos.
Eu não participo nestas manifestações, porque são uma redundância à perca de tempo. Perde-se um dia a gritar palavras de ordem que, em muitos casos, fazem muito pouco sentido, para mudar absolutamente nada. Quando a manifestação acaba  as pessoas vão para as suas casas e pensam: "dever cumprido!". Dos dias seguintes em diante demitem-se de todas as suas responsabilidades cívicas. Ao fazê-lo patrocinam a Eutanásia colectiva de um país, ainda por cima a prestações e com juros incluídos.
Como tenho a minha consciência tranquila em relação à defesa que faço diariamente dos meus direitos, não perco o meu tempo com manifestações inócuas. Mas isso sou eu.

1 comentário:

  1. Completamente de acordo, inclusivamente na justificação com que sustentas a tua ausência em tais manifestações. Perfeitas perdas de tempo quando nos restantes 364 dias do ano, essas pessoas, a única coisa que fazem é “baixar as calças”.

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