sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Preparem a p*** da Revolução!

Pedro Passos Coelho veio ontem, dia 13 (raios partam o treze, ou "treuze" como tanta gente diz) dizer-nos, relativamente ao Orçamento de Estado para 2012, que afinal tem (a inevitabilidade é um termo dele e só dele) de acrescentar austeridade a uma vivência cada vez mais austera e sofrida por grande parte dos portugueses. E fê-lo com uma paz de espírito inebriante, porque só mesmo um mentecapto é que pode anunciar as medidas que anunciou para o OE de 2012 como se ele nada tivesse a ver com isso. E bem vistas as coisas, não tem, porque ele faz parte da chamada elite, à qual nunca foi imputada nenhuma culpa no cartório sobre nada do que aconteceu nos últimos 37 anos em Portugal.
Aliás, até parece que existem dois países: O Portugal dos pequeninos, no qual todos vivemos e a quem constantemente pedem os sacrifícios todos, mesmo que esses sacrifícios não tragam nenhuma linha de rumo ou estratégia e sejam simplesmente incomportáveis. Sacrifícios esses para pagar os devaneios do segundo, o Portugal utópico, país daquela franja da população auto-proclamada elite portuguesa, que tem o mau hábito de brincar com o povo, das mais variadas formas, como se o povo fosse um peão em um qualquer tabuleiro de jogo. Mas a nossa história recente é rica e dá-nos pistas importantes sobre o que é que isso, a muito breve trecho, pode trazer. E já vem tarde, muito tarde.
Voltando ao anúncio do OE para 2012, registo (já antes o havia feito, mas agora confirmo-o) que os nossos (des)governantes percebem tanto "daquilo" como eu de Transplantação Hepática, senão vejamos:
Este (des)Governo, quando tomou posse, apesar de se esconder com grande hipocrisia no memorando da Troika e no suposto buraco que o anterior Governo deixou, propôs revitalizar a economia, mas depois o que faz para chegar a esse fim? Aumenta os impostos, corta nos apoios sociais, acaba com as deduções fiscais e adjuvantes, corta nos subsídios, aumenta as taxas baixa e intermédia do IVA, etc.
Ora, não é preciso ser economista para perceber que se as pessoas não têm dinheiro para gastar, a economia de base não funciona e se essa não funciona, toda a economia do país começa a colapsar. Mais, a previsão de receitas que este governo fez, depois de começar a implementar as medidas acima descritas, é simplesmente inacreditável, porque indicia que quem fundamentou as medidas é incompetente e percebe zero do assunto, o que é gravíssimo, pois numa altura particularmente difícil e com um historial gritante de incompetência económica e financeira que nos trouxeram ao buraco em que nos encontramos, o que o país não precisa é de (mais) gente incompetente.
A juntar a esta medidas, anunciaram hoje outras que só posso apelidar de absurdas, atendendo ao facto de que as mesmas não resolverão o problema e de Portugal ser um país muito particular.
Ora vejamos, das que eu me lembro:
1. Acrescentar meia hora por dia ao trabalho para dar mais competitividade é simplesmente estúpido, porque indica que, por um lado, o (des)Governo tem a ideia de que as pessoas trabalham pouco quando as estatísticas dizem o contrário e por outro que é a meia hora que fará a diferença num país que apenas produz 10 ou 20% do que consome, recorrendo, no excedente da percentagem, à importação.
2. Congelar subsídios de Férias e de Natal a quem ganha mais do que 1000 euros e de Natal a quem ganha acima dessa fortuna que é o ordenado mínimo (585 euros) é absurdo, porque para além de se saber que um dos subsídios não é um bónus, mas um acerto nas contas, sabe-se estatisticamente que os portugueses, na sua grande maioria, têm nos dois subsídios uma forma de equilibrar as suas contas ao fim do ano. E têm necessidade de o fazer porque em Portugal vive-se abaixo da média europeia, embora se queira amiúde passar a ideia contrária.
3. Reduzir o tempo de subsídio de desemprego para apenas 12 meses, com a intenção de fazer voltar mais cedo os desempregados ao mercado de trabalho, num país com uma taxa galopante de desemprego (já está nos 12%) e sem perspectivas futuras é simplesmente assassino, porque faz ressaltar a ideia de que o (des)Governo tem algum interesse fantasma (e profundamente inusitado, diga-se) em perpetuar e/ou aumentar a desigualdade social, a precariedade e a falta de dignidade dos seus concidadãos.
4. A ânsia ignóbil de querer reduzir o défice a todo o custo e para valores e timings não exequíveis, nem que para isso tenha o (des)Governo que liquidar as classes que menos têm, e que no fundo, sustentam o país com o seu trabalho, parece-me profundamente injusto e  fracturante. Ainda para mais quando vemos que as medidas aplicadas às elites, aos grandes grupos económicos e à banca, são irrisórias ou inexistentes.

Tivemos 48 anos de Estado Novo, com o atraso social e cívico que isso nos trouxe, mas já vamos em 37 anos de retórica, de mentiras, de falsas promessas, de falsa democracia, de corrupção, de impunidade, de um sistema partidário disfuncional, de anarquia organizacional e de inexistência de um rumo ou estratégia nacionais. No fundo e feitas as contas, tirando a liberdade, 37 anos de nada!
Aproveitando, pois, a falácia da inevitabilidade das medidas que o (des)Governo faz bandeira e que apenas colhe quem faz parte carneirada que corre alegremente para o abismo, é minha convicção que há uma inevitabilidade (essa sim verdadeira e muito mais próxima do que se possa pensar) que não tem sido equacionada e que redunda no protesto e tumulto sociais.
Por isso afirmo que é hora de protestar, é hora de sair à rua e recuperar o que resta da nossa soberania individual e colectiva. Mais do que protestos e manifestações silenciosas, ordeiras e, por isso mesmo, profundamente resignadas, Portugal precisa, mais do que nunca, que os seus cidadãos, enquanto partes vivas e integrantes do País e da Europa, parem, de uma vez por todas, de se exonerar do seus deveres cívicos (alguns deles revelando alto grau de masoquismo) e defendam os seus direitos consagrados na constituição.
Não nos podemos imiscuir da responsabilidade, porque ela traz uma excelente oportunidade para mudar de vida e de paradigma.
Querem a mudança? Preparem a p*** da Revolução!

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