terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Já deixámos de ter Domingos... Há anos!

Confesso que não me surpreende a notícia da saída do Domingos, antes surpreendido fiquei quando começou a ser ventilado para preencher a vaga de treinador, porque nunca fui adepto do retranqueirismo primário do técnico nortenho e em boa medida todas as boas prestações que teve, tanto em Coimbra com em Braga foram, na minha opinião, sobrevalorizadas. Em Braga, por exemplo, "herdou" uma estrutura sólida e uma equipa construída. Apenas a retocou e nunca - mesmo na Liga Europa, competição que chega à final - me conseguiu encher as medidas, com aquele futebol de transições, de tracção traseira. Não quero com isto dizer que não tem o seu valor, que acho que o tem, mas não para um clube com as idiossincracias do Sporting e, principalmente, no momento periclitante que atravessa na sua já longa história.
Pondo de parte o meu gosto, ainda que fundamentado, e focando apenas a prestação de Domingos, posso dizer que é vítima de uma lastimável história recente, da falta de liderança, da falta de identidade, da falta de um projecto sólido que confira estabilidade, da falta de solidariedade, etc. Mas é culpado em tantas outras e, na sua maioria, da sua vigência. Ficámos a saber, pelas suas declarações recentes que, ao que tudo indica, se deixou ultrapassar nas contratações, nunca conseguiu impor a sua primeira ideia de jogo, havia clara falta de comunicação e quiçá de liderança e - pasme-se -, a fazer fé nas declarações de Wolfswinkel a um jornal do seu país, os treinos eram apenas de descompressão e massagens.
Como se não bastasse isso, Domingos mostrava em alguns jogos não ter, por um lado, feito o trabalho de casa, sendo não raras vezes apanhado de surpresa pelo adversário, como não ter mão para mudar o que quer que fosse, visto que normalmente mexia mal nos jogos, com os resultados que hoje se conhecem.
Não posso contudo deixar de, como sportinguista, agradecer o empenho do mesmo enquanto treinador e desejar-lhe, como é óbvio todo, o sucesso, mas não era o treinador que o Sporting precisava.
Deixámos de ter Domingos, ontem, mas os Domingos de futebol, já deixámos de os ter há anos, porque o problema do Sporting é muito mais profundo do que uma ou outra mudança de treinador. Problema(s) esse(s) que tenho esmiuçado ao longo dos últimos meses.
O senhor que se segue, ou melhor, o balão de oxigénio que se segue a esta direcção é Sá Pinto e eu até acredito que o antigo capitão do Sporting tem qualidades inegáveis para dar a volta à situação desportiva, mas entra numa altura em que o verdadeiro e incapacitante problema do Sporting continua: Uma direcção sem rumo, sem projecto, que vive essencialmente de expedientes de ocasião, inócuos e sem critério e que vai "comprando" tempo com populismos bacocos. Ao promover Sá Pinto, acalmam-se a hostes e ganha-se tempo para destruir o resto.
Sá Pinto tem raça, é exigente, não gosta de perder nem a feijões e sente o clube como poucos. Tem ainda uma das coisas a que dou mais valor: pode ser meio amalucado na forma como trata alguns assuntos, mas defende aquilo que acredita até ao fim e espinha dorsal não lhe falta. Vai, no entanto, ter pela frente um enorme desafio que só pode ter dois desfechos. Ou Sá Pinto se impõe à estrutura, obrigando-a a mudar com ele, ou é engolido pela fogueira das vaidades que orbitam o Sporting e bate com a porta daqui a uns meses.
A cadeira é de sonho, mas é claramente um presente envenenado, tal como o era para o Paulo Bento e só recuperando os Domingos perdidos, o "Coração de Leão" poderá ser bem sucedido.

PS: Sempre disse que Domingos teria a sua verdadeira cadeira de sonho no Dragão. É certo e sabido e nem é preciso um grande esforço mental para perceber isso. Disse inclusive que Domingos parecia, principalmente a partir do início do ano, estar com a cabeça noutro lado, mas os rumores que correram sobre as conversas entre o Porto e Domingos e que isso estaria na base de qualquer rescisão, parecem-me mais um sacudir água do capote por parte da direcção do que uma realidade. O que se devia de facto e claramente questionar é porque é que no domingo, Godinho Lopes, defende acerrimamente Domingos e "fá-lo" parte integrante e estruturante do projecto que, em boa verdade, poucos conhecem e 24 horas depois, despede-o por resultados insuficientes. Os resultados eram mais suficientes no Domingo do que na Segunda, houve algum jogo nessas 24 horas que os sportinguistas desconhecem ou o projecto deixou de necessitar de um pilar essencial?

1 comentário:

  1. Faltaria acrescentar "Só eu sei porque não fico em casa!" se isso não fosse já e apenas um acto de perfeita teimosia.
    Veremos até quando, porque a paciência tem limites.
    Isto é como ter ladrões em casa e em vez de correr com eles à paulada, convidá-los a sentar.

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