quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Um "modelo" de Sporting

Saiu ontem o resultado da auditoria aos últimos 13 anos da vida do Sporting e, como se esperava, o mesmo não é mau, é péssimo. O epíteto de falência técnica já não assusta, porque todos os clubes do mundo estão, estiveram ou estarão nessa situação, o que verdadeiramente assusta é que em 13 anos passámos de 11 milhões positivos de capitais próprios para 193 milhões negativos. Bem sei que houve grandes investimentos, como sejam o estádio ou a academia, também eles com grandes derrapagens, mas ainda assim é assustador perceber que, mesmo com inúmeras mais-valias extraordinárias o passivo aumentou exponencialmente e a uma velocidade nunca vista. No fundo, foi tudo à grande e com claro prejuízo do Sporting.
Perante estes factos há já os que se apressam em falar do capital estrangeiro como uma inevitabilidade. A breve trecho e sem querer, realmente, pensar num modelo poder-se-á pensar que é a única solução. Eu penso o contrário e como já, por diversas vezes o disse ou escrevi, o Sporting tem de trilhar o seu próprio caminho e não estar (sempre) dependente de terceiros.
Apesar de não ser economista, ROC ou TOC, nem de em algum momento ter essa pretensão, deixo aqui uma ideia "modelo" de clube que, sem fazer contas e sem grande rigor, pode apresentar uma solução para os anos vindouros no Sporting. É, em alguns pontos uma adaptação de alguns projectos nos quais me revi no passado, mas em todo o caso é este o modelo ou ideia que defendo há já uns anos para o clube. Obviamente com estudos sérios de viabilidade.

1. Sócios
O clube vive dos sócios e portanto tem de fazer os esforços necessários para aumentar o seu número. Parece-me evidente que tem que haver uma real mais-valia em ser sócio. Pagar por pagar nunca foi chão que deu uvas e não será em tempo de crise que dará.
Todos os sócios tem direito a voto, no núcleo respeitante à região de residência.
Todos os sócios têm possibilidade, mesmo aqueles que vivem muito longe, de assistir a alguns, senão a todos os jogos em Alvalade, nem que para isso se crie uma oferta especial para sócios que vivam a mais de 150 km de Lisboa (ex: dar opção de escolher 5 jogos a 5 euros) e outro para as ilhas...

2. Núcleos, filiais e delegações
Os Núcleos, filiais e delegações são a alma do Sporting espalhada pelo globo. Sendo o Sporting o maior beneficiário desse esforço, muitas vezes, individual, não faz sentido o Sporting não ajudar e participar activamente nos mesmos.
Fazer um levantamento sério das necessidades de cada núcleo/região e tentar supri-las, fornecendo os meios necessários para, não só modernizar e prepará-los como extensão do próprio clube (que é, na verdade, o que deviam ser e não apenas cafés e snacks-bar), como cativar mais sócios e adeptos ou como ser um pólo activo de sportiguismo em cada região, com actividades, jantares, convívios, etc (Sempre que o Sporting fosse jogar à região, seja em que modalidade, uma comitiva deslocar-se-ia aos núcleos e filiais ou delegações da região).
Cada região é convidada de honra de um ou mais jogos em Alvalade. Para os sócios do Sporting o bilhete é o valor médio por jogo de uma gamebox sócio e para adeptos o bilhete custaria o dobro. A viagem seria costeada pelo núcleo e pelo Sporting em metades iguais.
Para os núcleos fora do país o formato é o mesmo, mas adaptado. O Sporting organizaria a viagem (e a estadia se fosse necessário), mediante os pedidos feitos através do núcleo em questão e dividiria os custos com o núcleo.

3. Futebol
É o futebol o "core business" do clube e por isso o investimento feito no mesmo terá, ou não, as repercussões necessários ao crescimento.
3.1 Uniformização do modelo
A implementação de um modelo de jogo, comum a todos os escalões, é imperativo. Não faz sentido que o Sporting, sendo um clube formador, não siga as boas práticas de outros grandes clubes formadores como são Barcelona e Ajax e que usam esse método com resultados muito satisfatórios.
3.2 Plantel/equipa
O Sporting não tem dinheiro para investir fortemente todos os anos, nem isso faz algum sentido, porque já investe fortemente nas camadas jovens. Como tal, o Investimento passa por ser feito de 4 em 4 ou de 5 em 5 anos, tendo como orçamento médio 30 milhões de euros, com o intuito de criar uma equipa forte que possa ir, nos anos seguintes, acomodando os jovens que saem da academia ou já tenham rodado, emprestados, 1 ou 2 anos na 1ª divisão. Todos os anos e não obstante o investimento dos 30 milhões, pode (e deve) o plantel ser ajustado no caso de uma mais-valias (vendas) ou caso surja um bom negócio que vise suprir uma falha no plantel.
O plantel base precisaria apenas de 20 jogadores (ao invés dos 26 ou 27), sendo que, posições de 3ª escolha, como sejam 3º guarda-redes, 3º lateral ou 5º central, podem ser perfeitamente supridas, em caso de necessidade por júniores de último ano.
3.3 Treinador/equipa técnica
O Perfil do treinador tem que encaixar no modelo do clube e não o contrário. É dos investimentos mais importantes, não só a nível financeiro como a nível desportivo e teria de estar acoplado ao projecto durante 4 ou 5 anos, dependendo do tempo definido para reinvestir. A escolha recairá naquele que reunir as melhores condições de adaptação ao modelo de jogo do clube, à prática efectiva de bom futebol e ao trabalho e potenciação de jovens (ex: Arsene Wenger).
3.4 Departamento médico
O Departamento médico de um clube que se quer de alto rendimento tem que ser, como todos os outros departamentos, altamente profissional. Não faz sentido não se investir fortemente naquilo que é realmente importante como sejam o bem-estar físico e mental dos atletas, porque são eles que, no limite e directamente, trazem retorno ao clube. Está provado que - e o Milan é exemplo disso - um investimento sério em profissionais altamente competentes na parte médica desportiva faz com que toda a equipa renda mais e por mais tempo.
3.5 Olheiros/Prospecção
A criação de uma rede de olheiros um pouco por todo o mundo não é novidade, mas há que investir na profissionalização orientada para os resultados da mesma. A definição de um perfil  para cada posição e formação para observadores na academia seriam apostas que criariam uma maior identificação do prospector/olheiro com o clube.

4. Canal Sporting
Pode parecer uma idiotice, mas penso que um investimento sério num canal temático Sporting seria mais uma adjuvante à captação e manutenção de associados, bem como uma forte mais-valia em termos negociais, com parceiros, sponsors e outros.
E seria importante, desde logo, porque permite chegar a todos quantos não têm hipótese de assistir "in loco" ou pelos canais Sporttv aos jogos do clube e depois porque todas modalidades, que a maioria até gostava de acompanhar, mas que não têm essa possibilidade, estariam cobertas. Outra das muitas mais-valias, seria a re-activação da história (e consequente marca) do Sporting que, hoje em dia, só através das visitas ao museu ou em alguns livros, os sócios e adeptos podem conhecer/recordar.

5. Pavilhão
Urge ter um pavilhão, mas um pavilhão que cumpra todos os requisitos de todas as modalidades Sporting. E urge não só pelo óbvio, que consiste em ter as modalidades todas nos mesmo sítio e, com isso, deixar de pagar várias rendas, bem como andar com a casa às costas. Esse investimento seria também uma mais valia na relação com o sócio porque faz concentrar os sócios num só sítio em vez de os dispersar por vários.

6. Modalidades
O modelo usado para o futebol seria implementado nas "amadoras". Cria-se uma equipa base e, nos anos seguintes, acoplar-se-á os "descendentes" das camadas jovens. Os mesmos métodos usados na equipa principal seriam transmitidos para as camadas jovens , afim de potenciar as qualidades dos atletas sem necessidade de adaptação a posições e/ou métodos novos.
Cada modalidade teria de se auto-sustentar, mas o Sporting tem de dar uma ajuda crucial que consiste em negociar esses contratos, fazendo jús ao poder negocial que tem.

7. SAD
O Sporting terá sempre que deter a maioria da SAD, para que os sócios tenham poder de veto e de voto no "core business". Só aumentando a capacidade de intervenção e envolvimento na vida do clube por parte dos associados é possível reaver os sócios perdidos (cerca de 90.000) em  25 anos.
Todos os orgãos da SAD teriam de ser, também eles, eleitos. Ao acabar com as cooptações, acabam as dinastias e compadrios.

8. Estrutura Directiva e Outras
A extinção do conselho leonino e transferindo esse poder consultivo para todos os sócios é fundamental no emagrecimento da estrutura e na manutenção e captação de novos associados.
A estrutura directiva é muito pesada e andam demasiadas pessoas a comer à conta sem que dêem o mínimo retorno ao clube. Uma revisão na quantidade de elementos que compõem cada orgão e na forma como os órgãos são eleitos seria importante, porque hoje não se elege a competência, mas uma espécie de compadrio e de amizade de circunstância. Tão importante quanto o número de sócio, para o cargo a que se candidata, seria importante apresentar currículo.

9. Estádio e Academia
É imperativo resolver, de uma vez por todas, a questão do relvado, porque me parece ser um dos principais "handicaps" dos espectáculos realizados em Alvalade. Optar por uma solução intermédia (semi-sintético), seria provavelmente o melhor, sendo que foi nesse mesmo "esquema" o melhor período que o relvado teve desde que o Estádio foi construído.
Abrir a Academia a outros "estágios" pode ser uma importante fonte de receitas. Não faz sentido termos uma infraestrutura com condições excepcionais como a Academia, sem a potenciarmos numa altura de grave crise financeira. Mesmo que para isso, em alguns momentos, a equipa mudasse os treinos para Alvalade. Ganhava o Sporting e por duas vezes: Rendia a academia e rendia o estádio com a proximidade dos sócios.
Criar, uma "ligação directa" entre Alvalade e Alcochete. Um "bus"que parta de Alvalade para a Academia, todos os dias, 3 ou 4 vezes por dia e que permita que os sócios que não tenham viatura, não possam ou não queiram levar a sua, possam, ainda assim e sem custos, acompanhar a vida da equipa "in loco".

Este é o meu "modelo". Não sei se é caro ou barato, se resulta na plenitude ou em parte. Mas uma coisa sei e é isso que me faz, como sócio, ter ideias e querer partilhá-las: O modelo actual não funciona. Não funciona nem desportivamente nem financeiramente. O modelo actual está falido tal como o Sporting e é uma atoarda de gente supostamente competente, por isso não me custa pôr a cabeça a mexer e reinventar o Sporting, mesmo que isso só me dê de retorno, o sonho de ter um clube melhor.

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