sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Vencer para mais tarde convencer

Sá Pinto disse-o no final e, no fundo, já se consegue ver isso na equipa. Pediu que a equipa pusesse em prática o lema Esforço, Dedicação, Devoção para atingir a Glória e o facto é que nos últimos jogos, mesmo sem, em termos futebolísticos, deslumbrar (muito longe disso), a verdade é que a equipa tem demonstrado uma capacidade competitiva que desconhecíamos e que só é abalada pela menor capacidade física que cada elemento empresta à equipa.
Nesse aspecto, o jogo de ontem, tal como o de Varsóvia, foi particularmente exigente. A equipa polaca tem uma disponibilidade física e uma noção de competição impressionantes, capazes de "fazer corar" a grande maioria das equipas da Europa, mas o que lhes sobra em disponibilidade física, falta-lhes em capacidade técnica.
O jogo foi uma autêntica guerra, no bom sentido. Cada lance, cada bola, cada espaço era disputado como se do último se tratasse e isso emprestou ao jogo um ritmo bastante alto, mas retirou clarividência às duas equipas, principalmente enquanto o "pulmão" aguentou, para esticarem o jogo e criarem perigo.
A um início muito intenso dos polacos, nos primeiros 10/15 minutos, que nos chegaram a empurrar perigosamente para trás, quase conseguindo marcar num erro de cálculo de Rodriguez, respondeu o Sporting, libertando-se da pressão inicial, com maior qualidade de posse. Enquanto os polacos jogavam muito directo, o Sporting preferia trocar mais atrás, tentando abrir as linhas polacas, e sair com certeza, até porque o resultado da 1ª mão assim o permitia. Porém, faltavam 20 metros ao Sporting. Só nos últimos 20 minutos da 1ª parte, quase sempre pela direita onde Carrillo e João Pereira dão andamento ao corredor, o Sporting foi capaz de começar a incomodar efectivamente a defesa contrária. Do lado contrário Izmailov bem se esforçava por dar largura, mas não tem ainda andamento físico e nunca será um extremo de raíz. Dos polacos, tirando o erro de Rodriguez, pouco mais se viu, em termos atacantes.
A 2º parte muda um pouco o cariz do jogo. O Sporting entra melhor, mais afoito, mas mesmo assim não consegue esticar o jogo até à área contrária. O jogo continua na mesma toada de "guerra", mas, à medida que o tempo vai passando e os polacos vão perdendo frescura física, o jogo começa a ser (melhor) jogado no meio campo polaco e, como consequência directa, o Sporting começa a acercar-se mais da área contrária. Os polacos recuam e tentam o jogo ainda mais directo.
Nesta fase e apesar de não haver praticamente lances de golo em ambas as balizas, o Sporting está por cima do jogo e da eliminatória e está relativamente confortável, mas, em pouco mais de 5 minutos, é obrigado a esgotar as substituições. Com tanto tempo para se jogar, Carrillo sai com fadiga muscular, Rodriguez sai com um problema no joelho e Izmailov, ainda sem o ritmo ideal, sai também com fadiga muscular. Para os seus lugares entram, respectivamente, Capel, Xandão e Pereirinha.
Com cerca de 20 minutos para se jogar, duas coisas ficaram certas naquele momento: Quem estava em campo, teria de aguentar até final, tivesse ou não problemas físicos e se a coisa corresse mal, não haveria mais que se pudesse fazer do banco, senão mudar a estratégia.
Apesar de melindrado pela própria situação de perder 3 jogadores em pouco mais de 5 minutos, o Sporting continuou a controlar o jogo com mais ou menos dificuldade, até que, ao minuto 83, num livre de Matías, depois de mais uma falta ganha por Capel (que entrou bastante bem na partida, dando a largura que aquele flanco não tinha tido até aí), chega ao golo que "arrumou" a eliminatória. Com pouco mais de 10 minutos para jogar não era expectável que os polacos fizessem 2 golos e o jogo acabou por chegar ao fim sem mais sobressaltos. A vitória é justa, num jogo bastante intenso, mas sem grande qualidade futebolística. Vão-se o anéis, mas ficam os dedos.
Nesta fase é mais importante vencer. Vencer para depois (acredito eu) convencer.

O QUE EU GOSTEI
- Da atitude e do empenho da equipa do Sporting: Já dizia o Szabo que o futebol é 1% de inspiração e 99% de transpiração. Apesar de, em termos futebolísticos, o Sporting ainda estar a um nível baixo, mostrando apenas a espaços alguns pormenores, desde a entrada de Sá Pinto que se nota que a equipa ganhou nova alma e nova mentalidade competitiva.
- Da aplicação efectiva do trabalho de casa: As bolas paradas, toda a gente sabe, são uma mais-valia quando resultam, porque muitas vezes podem "desatar" o nó de um jogo que está complicado. Mas, para isso acontecer, tem de haver trabalho por trás, durante a semana. Desde que Sá Pinto entrou que o Sporting melhorou bastante esse capítulo (que já não era especialmente mau com Domingos, mas que funcionava muito à base da individualidade). Coincidência ou não, nos 3 jogos de Sá Pinto, outros tantos golos de livre e verdade seja dita que Carriço tem estado em bom nível, nesse aspecto, seja a marcar, como em Varsóvia, seja a estorvar, como em casa com o Paços, ou seja a simular, como ontem com o Légia.
Da melhoria que o banco representa: Na era Sá Pinto, as opções que saltam do banco acrescentam, de facto, alguma coisa ao jogo e o Sporting é quem mais ganha com isso. Mesmo aquelas opções que os sócios e adeptos normalmente torcem o nariz têm sido mais-valias.

O QUE EU NÃO GOSTEI
- Da exibição: Embora reconheça que é preciso algum tempo até a equipa assimilar os novos métodos de trabalho e apesar de já ter notado algumas mudanças relativamente ao futebol de Domingos, nomeadamente a exploração do jogo interior nos corredores, o próprio posicionamento de alguns elementos e a disponibilidade competitiva, o facto é que o futebol do Sporting é (ainda, espero eu) muito pobre. A equipa tem qualidade inegável, mas não consegue transpor isso para o jogo colectivo a não ser a espaços muito esporádicos. Acredito que, com aquisição da nova identidade e a mudança do paradigma descendente a que estava votada, assim como com os últimos resultados positivos alcançados, paulatinamente, as exibições mudarão.
- Do estado físico da equipa: Apesar da grande disponibilidade competitiva que, principalmente estes 2 jogos europeus, tem mostrado, a equipa está exausta (já estava há largos meses) e dá a nítida sensação que foi mal trabalhada nesse aspecto pela anterior equipa técnica. Melhorou-se bastante em termos anímicos, mas em termos físicos, terá de ser com trabalho de fundo que exige algum tempo.
- Das inúmeras lesões que todos os jogos acontecem: Com o Paços Onyewu e Rinuado, ontem Carrillo, Rodriguez e Izmailov. 5 lesões em dois jogos não augura nada de bom e só vem provar que, ou a equipa estava mal trabalhada, potenciando as lesões, ou o Departamento médico não dá conta do recado satisfatoriamente. Ou ambas. São casos a mais, em menos de um ano, para que se possa falar em azar. O mais assustador disto tudo é que a maioria dos lesionados é crónica, o que nos faz elevar os olhos para a direcção desportiva e questionarmo-nos em que condições foram adquiridos alguns jogadores e porque é que o Dr. Gomes Pereira foi, efectivamente, afastado. Dos 19 que chegaram este ano, se não me falha a memória, só Carrillo, Ínsua e Elias (dos que jogam com regularidade) ainda não estiveram lesionados. Tanto Rinaudo, Onyewu, Schaars, Wolfswinkel, Capel e Jeffrén, já deram entrada no "estaleiro" e alguns são "clientes" habituais.

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