sexta-feira, 16 de março de 2012

O "milagre" de Manchester ou talvez não

Nota prévia: Estive ausente da escrita durante 3 jogos (City, Guimarães e City) por imperativos profissionais e tentarei, por isso mesmo e sucintamente, abordar o "bolo" dos 3 jogos.

O Sporting passou à fase seguinte da Liga Europa com distinção, porque conseguiu o verdadeiro "milagre" de transformar a negação do próprio embate, que muitos previam, em força motriz do sonho que hoje se realizou.
Sá Pinto não mudou tudo, mas mudou o essencial. Fez recuar a equipa, defendendo em bloco, soltanto os criativos e os extremos para aquilo que devem fazer - criar. Parece paradoxal, mas não é. A todos exigiu crença, combatividade e abnegação e passou-lhes a crença de que dando em excesso estes ingredientes, o talento natural de muitos dos jogadores do plantel, faria o resto. Como disse numa conferência de imprensa - ideia que subscrevo na íntegra - a alta competição é feita de 90% de trabalho e 10% de inspiração e o resultado, ou melhor, os resultados estão à vista.
Durante os primeiros jogos da sua "era", Sá Pinto não quis mudar o figurino deixado por Domingos. O 4-3-3, porém, exigia demasiado dos jogadores, já no limite físico e anímico e deixava, tanto o meio campo como a própria defesa mais expostos, sendo que os resultados, tirando Setúbal foram satisfatórios, mas as exibições deixavam a desejar. Notava-se, no entanto, maior entrega e alguns pormenores que, por si só, não faziam diferença, mas que noutra organização, poderiam começar a fazer.
O City vem a Alvalade e Sá Pinto, por força da própria equipa não render o esperado e, mais importante, pela valia do adversário, muda completamente o figurino. Faz recuar a equipa, povoa melhor o meio-campo e solta Matías atrás de Wolfsvinkel e o resultado da mudança não poderia ter sido melhor. O 4-2-3-1 tem o condão de juntar as linhas defensivas e de meio-campo, protegendo a verdadeira lacuna da equipa (a zona central da defesa) e fazendo com que a equipa ganhe mais bolas, endossando-a  rapidamente aos criativos Matías, Izmailov e Capel, nunca perdendo, mesmo quando ataca, o sentido posicional defensivo.
Em Alvalade, com o City, o Sporting fez um jogo inteligente e beneficiou muito da forma sobranceira como os ingleses abordaram o jogo. O resultado, por isso, não espanta. O 1-0 para além de justo era amplamente apoiado nesta nova ideia de jogo que parece agora florescer.
Passado esse fantástico jogo, o Sporting recebe o Guimarães e põe em prática, com algumas nuances, a mesma receita: equipa compacta, lutadora, soltando Matías e Izmailov para, cada um no seu posto, emprestar qualidade de posse e de passe e Capel para atormentar o lado direito das defesas contrárias, ganhando com isso, os últimos 30 metros que tanta falta têm feito nos últimos meses. Pé ante pé e com toda a justiça, o Sporting foi avolumando o resultado que se cifrou em 5-0.
Mas o verdadeiro teste tinha a data de hoje (ontem), depois de dois jogos em que o Sporting foi claramente superior, mas que, tanto num como noutro, o adversário cometeu erros de palmatória (não tiro o mérito ao Sporting por isso, muito pelo contrário, porque muitos dos erros de que falo foram potenciados pelo espírito de conquista da equipa). A visita a Manchester estava rodeada de expectativa, tanto de um lado como de outro, mas a verdade é que o Sporting superou o teste com distinção.
Uma primeira parte, a todos os níveis, excepcional, não oferecendo ao City a mínima hipótese de criar perigo real e, por outro lado, fazendo as despesas do jogo ao ritmo que interessava, culminaram com o resultado de 2-0, totalmente merecido, porque foi a equipa mais capaz, nunca perdeu a postura e juntou a isso enorme concentração defensiva e ofensiva. A segunda parte, porém, seria de grande sofrimento.
O Sporting até entrou bem, remetendo o jogo para a baliza contrária nos primeiros minutos, mas depois foi perdendo gás, à medida que Matías perdia o seu.
O City faz o primeiro golo aos 15' e o Sporting, ainda assim, não pareceu acusar muito o golo, respondendo bem, mas quando o City faz o segundo, ao 75' a partir de um penálti muito duvidoso, a equipa tremeu.
Tremeu e recuou, talvez em demasia, ficando à mercê, demasiado tempo, do sufoco inglês e o City acabou por, aos 82', fazer o terceiro golo, deixando a eliminatória num limbo perigoso.
O Sporting cerrou fileiras, juntou mais gente na "guerra" e abdicou completamente de uma coisa que parecia impensável fazer: Atacar. A equipa dava claros sinais de cansaço e optou, com muitos riscos, mas em meu entender bem (embora discorde da forma), tentar defender aquilo que tinha e que lhe dava a passagem à fase seguinte. Nos últimos minutos (de grande sufoco, diga-se), houve de facto muito jogo na área do Sporting, mas só no último lance da partida é que o City conseguiu criar, de facto, perigo, num cabeceamento do Guarda-redes (??) Hart, a que Patrício se opõe fantasticamente. A seguir o árbitro apita para o final e o Sporting vence a eliminatória com toda a justiça e mérito.
Apesar da excelente prestação do Sporting, nesta eliminatória, em 135/150 minutos mais descontos, a verdade é que os 30 minutos que faltam nesta equação podiam ter deitado todo o trabalho anterior para o lixo.
Uma equipa como o Sporting não pode duas coisas:
1ª- Desperdiçar 3 golos de vantagem. Nenhuma equipa do mundo consegue ganhar o que quer que seja a desperdiçar vantagem confortáveis destas. Ainda por cima com equipas com as soluções que o City possui.
2ª- Recuar tanto. Uma equipa como o Sporting, principalmente depois de ter banalizado o City em cerca de 150 minutos, não pode, em 30 minutos sonegar a sua própria identidade e começar a desconfiar de si própria. O jogo pedia, claramente, que o Sporting não tivesse medo de jogar em posse e mantivesse a bola em seu poder, até para enervar, como tão bem fez na primeira parte de Manchester, o adversário. Dar bola ao adversário, fez-nos recuar perigosamente e podia ter dado mau resultado.
Os últimos minutos mostraram que, a todos adjectivos que a equipa tem ganho nos últimos jogos, o Sporting juntou mais um: Capacidade de sofrimento "à séria". Já tínhamos visto algo parecido no jogo da Polónia, mas hoje foi sofrer a bom sofrer. Mas valeu a pena e se o Sporting tem ficado pelo caminho seria profundamente injusto, porque a esta eliminatória se aplica muito bem a história da formiga e da cigarra.
A minha palavra de apreço para jogadores, que foram inexcedíveis e para Sá Pinto (e toda a equipa técnica, naturalmente) que ilustra as minha palavras tão bem: Quem sente aquilo como poucos, não precisa de muito para ser feliz. O futebol, ao contrário do que muitos pensam, está todo inventado e não tem muitos segredos. O esforço, a dedicação e a devoção, com mais ou menos dificuldade, levarão sempre à glória. Imediata ou mais remota.

1 comentário:

  1. Agora sim, já se começa a notar alguma diferença.
    Talvez o segredo esteja na motivação que ao contrário de Domingos, o Sá consegue transmitir, fazendo com que todos dêem o máximo em campo. Oxalá seja para continuar assim.

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