quarta-feira, 18 de abril de 2012

And Now... for something completely different and yet completely similar

Quem não se lembra do "And now for something completely different"? Pelo menos eu lembro-me e fazia todo o sentido sem fazer sentido nenhum. Quem não conhece a frase e o que ela representa (normalmente 1 hora da mais hilariante comédia) que procure os registos de notariado. Adiante.

Hoje falo-vos de uma história de poder, de inveja e de jogos de bastidores.

A trama passa-se entre Paul Peartree Cristobal (PPC) e Ron Paul Figgerhead (RPF), com Louis Goodwin-Lopez (LGL) como intermediário e conta-nos a história de dois membros de um circo que, por terem direcções diferentes, se encontram desavindos, levando o presidente da direcção Goodwin-Lopez à (quase) loucura, mesmo em alegada ignorância.
Paul Peartree Cristobal, de ascendência sul americana, visto que o seu trisavô era descendente de aztecas, incas e espanhóis, é um ex-polícia frustrado, expulso e ostracizado pela força por conduta imprópria e que toda a vida sonhou abraçar a vida circense. Cumpriu parte desse sonho ao ser convidado pelo presidente da direcção do circo para trapezista, cargo em que é apenas sofrível, apesar de, no fundo, querer construir mais mastros debaixo da tendo, tentando aumentar assim o vão e consequentemente o espaço.
Por outro lado, Ron Paul Figgerhead, um palhaço em ascensão, chegado também ele há pouco tempo à actividade circense, com passagens mais ou menos frustrantes por várias casas de strip um pouco por todo o país, como bidon de despejo, aparece no circo como ajudante de palhaço (battatton partener, em francês) e pouco depois, beneficiando da reforma por invalidez do palhaço Barba Rossa, sobe na carreira batatoonesca, para a qual está completamente desfasado. Apesar do desfasamento e queda para a actividade, Figgerhead é astuto e move-se em terrenos pantanosos, conseguindo através de uma concertada palhaçada minar os caminhos de todos os artistas circenses que se lhe atravessem à frente, sempre sorrindo para o seu presidente, Goodwin-Lopez, enquanto palita os dentes com uma chave de fendas.
Louis Goodwin-Lopez, por sua vez, é uma magnata Australo-Peruano da indústria naval de luxo, que se meteu no negócio circense, em primeiro lugar para receber os apoios estatais dados à actividade circense, sendo procurado pelas fiscalizações de 176 países e depois porque era um negócio que convinha ter como fachada, para desenvolvimento de outros assuntos mais prementes.
Segundo se sabe, apesar das inúmeras trafulhices, Goodwin-Lopez não estará a par do que se passa entre Cristobal e Figgerhead e isso poderá despoletar o cair da fachada circense que o presidente tem para lavagem de dinheiro, lavagem de carros, lavagem de roupa suja e lavagem de fornos industriais com jacto de areia.
Cristobal terá, alegadamente e unilateralmente, aliciado um fiscal camarário de seu nome Asterisco Obelisco para tirar dividendos líquidos do aluguer do terreno, pondo-se em vantagem em relação a outros circos, que ofereciam mais e até em relação a uma feira de ciganos que ameaçava a família do fiscal em causa. Instruiu um elefante da sineta do Jardim Jaleca de modo a que este fosse depositar o numerário numa dependência fora do concelho.
No próprio dia, o canhoto do depósito foi deixado em cima do baú de arlequim de Goodwin-Lopez, com outros artigos pertinentes da trama, como uma corneta de plástico magenta, um papa-formigas empalhado ou mesmo uma ferradura de burro do cigano da Venda da Gaita.
Assim que se descobriu que aquele (e não outro) elefante tinha depositado dinheiro naquela dependência, já depois da polícia ter feito uma investigação preliminar ao fiscal Asterisco, percebendo que o envolvimento seria nulo, a investigação virou costas e pôs-se em marcha na direcção de Cristobal.
No exacto momento em que é indiciado, Cristobal renuncia ao seu sonho de criança e, durante três dias, desaparece do circo, sendo dada como desaparecida uma foca amestrada em seu lugar, mas depois vacila, reaparece, treme dos pulsos e pede readmissão, chorando compulsivamente pela sua mãe alentejano-hebraica.
Mal formado (tanto intelectualmente como fisicamente), Figgerhead, apercebe-se da fragilidade do sul-americano com ligações aos pólos planetários pelo sangue de boi almiscarado e, entre sorrisos e servidão intelectual, arranja um esquema para, afastando Cristobal do seu sonho, conquistar-lhe o lugar, subindo assim ainda mais na hierarquia circense.
Goodwin-Lopez, apanhado de surpresa pelo vendaval de parvoíce em que este texto é pródigo, aceita a renúncia de Cristobal, pensando que o circo e todas as actividades a coberto do mesmo ficariam a salvo. Quando percebe que isso dificilmente acontecerá, mete os papéis da reforma antecipada, fragilizando-se ainda mais perante a hierarquia, na esperança de sair do país numa traineira chinesa. Acaba por ter azar porque o Governo acabara, horas antes, de aprovar a lei que proíbe as reformas antecipadas com efeitos retroactivos.
Figgerhead esfrega as mãos. O circo está montado para ele e o holofote já está ligado. Apenas falta um pequeno passo para pôr o verdadeiro batatoon (ele próprio) no centro das atenções e do poder máximo.
Mas Cristobal força a porta , força os cortinados de cetim aveludado por trás dos sofás de flanela roxa e, ao urinar os cortinados da cozinha do circo, não só marca território, como força a  readmissão, não enjeitando para isso a excelente relação que tem com Goodwin-Lopez. É numa reunião entre todos os artistas, direcção, animais e até alguns transeundes, que aprova a readmissão de Cristobal.
Figgerhead retira-se da reunião a meio, frustrado com o passo atrás e com a sua própria incapacidade intelectual para conquistar a vitória, pois, durante os dias que antecederam a reunião magna, foi depositando pistas incriminatórias em vários locais sugestivos. Perante a careca que deixou exposta, sabe que o seu futuro de palhaço, neste circo, ficará comprometido, obrigando-o a mudar-se e começar a escalada de novo. Sabe que o próprio Cristobal encarregar-se-á de o efectivar, entre insultos fraquinhos e outras cabalas menores.
Mais tarde saber-se-á que Cristobal, sob a capa de trapezista, espiava todo o circo, desde a lona da tenda até ao chão de terra batida (de morango), passando obviamente por todos quantos privavam com esses dois elementos, tendo mesmo chegado a encomendar à Ambar um carregamento de pastas às cores com separadores incluídos, afim de tomar o poder, mais tarde ou mais cedo, através da chantagem.
Perceberá Goodwin-Lopez a tempo a trapaça, tão preocupado que está em esconder o verdadeiro objecto da fachada que defende, ou fará parte da mesma?
Chegará Cristobal ao poder pela chantagem ou Figgerhead terá ainda uma palavra a dizer?
Não perca o próximo capítulo... Ou então não.

1 comentário:

  1. Excelente!
    O que eu já me ri pah!
    Este post merecia ser publicado em todos os pasquins circenses até 24 de Abril e sair na primeira página do boletim circense do Louis Goodwin-Lopez.

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