quinta-feira, 28 de junho de 2012

Portugal, Portugal... Do que é que estás à espera?

Mais uma participação num grande certame e mais uma vez a história da cabeça erguida, do orgulho e do profissionalismo. Quando não fazemos figuras tristes (saltilho e Coreia-Japão), somos os abandonados à nossa sorte e pela sorte...
Não me levem a mal. Não ponho em causa a muy meritória participação portuguesa no certame que até excedeu bastante as minhas expectativas, mas a conversa já começa a dar náuseas a uma pessoa que perdeu o olfacto.

Vamos por partes e analisando friamente: Com um grupo daqueles (Alemanha, Holanda e Dinamarca), muito provavelmente, em 10 participações passávamos 1 vez, que foi esta.
Mas alguém acredita que se não fossem os problemas de egos e de paz podre dos holandeses - que sempre se acharam superiores aos outros, de tal forma que só em 88, lá conseguiram molhar o bico e com uma selecção do outro mundo -, passaríamos este grupo? Eu não só não acredito, como ponho bastante dinheiro nessa teoria.
Mas com os problemas alheios podemos nós e o facto é que, tirando no jogo com a Alemanha, que fomos demasiado subservientes, demasiado tempo (com o patrocínio do estado português), os dois jogos seguintes, fizemos o suficiente para vencer (e convencer) os respectivos jogos e por isso passámos merecidamente.
Nos Quartos, calhou-nos a República Checa que, com todo o respeito e já depois de, também ela, beneficiar de algum sobranceirismo russo, passando o grupo por entre os pingos da chuva, é uma selecção claramente em reconstrução, comparando com as selecções muito mais portentosas e fiáveis de certames anteriores. Com os checos fomos, acima de tudo, assertivos e vencemos com toda a justiça, passando às "meias" onde fomos derrotados hoje nos penálties por "nuestros hermanos".
E é basicamente no jogo de hoje que está o busílis de ser português (no desporto, porque na vida ainda conseguimos ser mais entrevados, mas adiante): Para a maioria dos portugueses, perder com a campeã da Europa e do Mundo nos penálties, não foi mau apenas à custa do epíteto que ostentam (dá-me náuseas este pensamento). Como se o epíteto ganhasse jogos ou como se o ganhar fosse herança. Para ser campeã a Espanha teve que disputar e ganhar os seus jogos. Pior: "Os espanhóis ganharam mas apenas nos penálties", como se os penálties trouxessem algum tipo de redenção da derrota ou algum tipo de alívio. Pelo contrário.
Confesso que o meu ódio a Espanha, principalmente no desporto mas não só, suplanta qualquer coisa de lógico. Não me perguntem porquê mas não gosto deles, nunca gostei, em nada. Se eu fosse do tempo da fundação, diria que não gosto deles desde que o Afonso deu um estalo na mãe e lhe disse: "Agora que me irritaste, vou por aí abaixo a bater nos mouros, pelo menos até Évora, só para veres quem é este menino. E não me contraries porque senão levas outra bolachada nos queixos" (há mesmo indícios que a conversa tenha sido assim, mas com os trejeitos da época que não sei reproduzir).

Nós não perdemos o jogo nos penálties. Perdemos ao achar que lá chegados, estávamos safos.
Apesar de achar que a estratégia não seria declaradamente essa (mal seria se fosse), é uma estratégia intrínseca no desporto português quando disputamos algo com alguém que tem mais predicados do que nós ou que, no limite, se impõe mais do que nós nesse desporto (veja-se o exemplo do hóquei: Não é por eles serem melhores do que nós. Nós é que olhamos para eles como se fossem e aí reside sempre o problema porque eles já perceberam isso.). É a estratégia dos pequenos, do tão célebre "jogar olhos nos olhos" e nós não temos necessidade disso. Perdemos hoje como perderemos sempre enquanto não forem tomadas medidas para fortalecer o desporto português.

Ao invés, os espanhóis, que já fizeram durante décadas as figuras de eunucos que agora nos calham, percebeu, nas diversas modalidades, que era na formação de excelência e na exigência que estava o ganho, mas a longo prazo. Semearam durante décadas e agora estão a colher os louros.
Mais, a própria Alemanha, detentora "apenas" de 3 campeonatos mundiais e 3 campeonatos europeus, com muitas finais perdidas pelo meio (é a equipa, se não me falha a memória, que tem mais presenças em finais) repensou todo o edifício do futebol, desde os escalões mais básicos da formação, até à Bundesliga, por ter feito 2004 e 2006 abaixo das expectativas e por precisar de renovar a sua selecção.
Nós, portugueses, fazemos o quê? Mandamos todos os defesos vir contentores de jogadores dos destinos da moda (agora é a América do sul para além do Brasil), muitos de qualidade abaixo de duvidosa e mandamos as nossas esperanças para o Chipre e para a Roménia, jogarem em ligas que pagam melhor, mas em que a competitividade é muito próxima de nula, fazendo com que a evolução dos mesmos seja igualmente nula.
O Sporting é um clube que (ainda) se preocupa com isso, ou não fossem os 12 (mais de metade) jogadores de formação leonina que esta selecção tem. Mas há que reconhecer que o futebol  em Portugal vai muito mal se apenas um clube lutar contra essa maré de estrangeiros que já começou a minar a formação. E até nisso o meu clube já está a começar a aderir às modas estúpidas.

PS: Em relação aos penálties propriamente ditos, há apenas uma coisa que sei de senso comum e esta vai directamente para o maçã podre que nem nos clubes por onde passou assumia a responsabilidade (e quando assumia, normalmente falhava) e mostra bem que o moço, apesar de bom jogador é parvo e mal formado (sem qualquer tipo de atribuição de culpas individuais): Depois do Patrício ter defendido o 1ª penálti espanhol, o 1º penálti português tinha que entrar. Desse por onde desse. Ao meio, nas pontas ou trespassando o Casillas.
E já o meu pai dizia: "Escolhes um lado e não mudas, independentemente do que acontecer. Remata forte e colocado, de preferência com a bola a bater na malha lateral.
Não há penálties defendidos, há penálties mal marcados. Um penálti bem marcado não tem defesa."
Parece cliché mas convenhamos: uma bola rematada a uma distância de 11 metros para tentar acertar num rectângulo de 7,32 de largura e 2,44 de altura, por um gajo que faz aquilo todos os dias devia dar golo em, pelo menos, 99% das chances. E dou o 1% de barato para todas as coisas que podem correr menos bem num remate de bola parada.

1 comentário:

  1. Em primeiro lugar, embora vontade não me faltasse, tenho a certeza de que não teria paciência para escrever um post deste género uma vez que já deito a selecção pelos olhos muito antes mesmo de terem partido de terras lusas.

    Em segundo lugar, mesmo que tivesse vontade, muito provavelmente não o teria conseguido fazer de forma tão brilhante como tu o fizeste.

    Só não subscrevo na íntegra por causa de dois pontos que me suscitam dúvidas. O primeiro de somenos importância para o efeito e que se prende com o episódio de D. Afonso Henriques ter batido na mãe e que segundo alguns entendidos não passa de um mito. O segundo, relativo aos marcadores dos penalties. Sem se saber quem fez a escolha e quem se furtou a marcar, se é que houve alguém que o tenha feito, será complicado julgar a “maçã podre” ou outro qualquer.

    Acrescento apenas que se continua estupidamente a querer medir o patriotismo de cada um consoante a forma como se apoia a selecção, como se um simples jogo de futebol onde ainda por cima os seus protagonistas são pagos principescamente, tivesse algo a ver com patriotismo ou enchesse a barriga a alguém. Conversa para boi dormir e cantigas de embalar para fazer este embrutecido povo esquecer por momentos (mas não resolver) o buraco onde ele próprio se enfiou.

    Posto isto, obrigado por mais um brilhante “lençol”.
    Onde é que se assina? :)

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