domingo, 29 de abril de 2012

Glória para consumo interno

Confirmou-se. A semana europeia verde e branca foi um desastre. 3 meias-finais em futebol, futsal e andebol redundaram em iguais afastamentos das respectivas finais. A aliar a isso, uma aprovação massiva, em assembleia geral, de 2 empréstimos no valor de 120 milhões para uma fusão que deixará os sócios sem opinião e a SAD com a faca e o queijo na mão em relação ao clube.
Começando e focando apenas o futebol, porque não vi nem o futsal nem o andebol e nem me vou pronunciar sobre a AG, posso dizer em primeiro lugar que gostei da atitude da equipa. É justo dizer que o Sporting chegou onde poucos pensavam ser possível, mesmo após a subida de Sá Pinto à primeira equipa.
A equipa dedicou-se até à exaustão, lutou e foi completamente solidária,  mas isso, por si só, não vence jogos. Ajuda, mas não os vence e esta eliminatória foi prova disso mesmo.
Houve nesta eliminatória 3 situações, na minha opinião, que precipitaram o triste desfecho. A primeira e talvez mais importante, foi o Sporting não ter sido eficaz em Alvalade, o que fez com que, ao não aproveitar as inúmeras oportunidades que teve para "matar" a eliminatória, tivesse seguido para o país basco com apenas 1 golo de diferença, permitindo inclusive, contra a corrente de todo o jogo, o golo que "apurou" os bascos.
A segunda prende-se com o primeiro golo dos bascos em San Mamés, porque é claramente precedido de falta grave o que permite que os bascos marquem cedo e ganhem balanço, ainda que o Sporting tivesse respondido muito bem a esse golo.
E a terceira, talvez mais definidora da 2ª mão foi, depois do Sporting a 2 minutos do fim da primeira parte ter empatado, consente o empate de uma forma displicente na jogada seguinte, ainda antes do intervalo. Penso que aí esteve a chave da vitória dos bascos na 2ª mão e consequente passagem à final.
Voltando ao princípio, o Sporting deu tudo o que tinha, que neste momento apesar de ser muito, é pouco, porque a equipa está mal trabalhada fisicamente e o treinador recém-chegado não tem condições para mudar isso esta época. A segunda parte foi disso prova. Assim que o Sporting teve necessidade de recuar, com os bascos a jogar com 12 (11 + público) e mais 3 ingleses - minha opinião -, nunca mais teve capacidade para esticar o jogo, de ter bola e, consequentemente, de discutir o jogo.
No fundo, o Sporting foi decaindo em toda a segunda parte, física e animicamente. Se em termos físicos se percebe, à luz de ter jogado muitos jogos seguidos nos limites, animicamente não se percebe tão bem, embora pela forma como decorreu o jogo em San Mamés se possa ter um pequena (enorme) pista. Correr 90 minutos num campo muito complicado, é extremamente difícil. Com este inclinado, manda abaixo qualquer um, por mais abnegado que se seja e aí o "óscar" vai para... Martin Atkinson. Desde o primeiro minuto que tudo permitiu aos bascos e nada permitiu aos lisboetas. As entradas dos bascos foram sempre a roçar a violência (como a que redunda no primeiro golo) e amarelos nem vê-los. Aliás, só para se ter uma noção da qualidade do árbitro que, ainda o fim-de-semana passado validou um golo-fantasma na premier league, todo o meio-campo basco estava em risco para a final e irão todos jogar a final, mesmo após faltas grosseiras. Sintomático.
Por outro lado, à primeira falta dos leões de Lisboa, amarelo. Foi assim com Wolkswinkel e foi assim com Carriço, por exemplo. A falta de critério foi tal que na segunda parte, há largos períodos em que qualquer disputa de bola no meio campo basco redunda em falta, sendo ou não efectivamente. Assim que o Sporting passava o meio-campo, falta!
Pode mesmo dizer-se, apesar da vitória em Alvalade, que a eliminatória esteve inquinada desde início, pois só para dar um exemplo, o atleta basco que fez o golo em Lisboa, é o mesmo que minutos antes e já com 1 amarelo, tem entrada duríssima sobre Capel.
O ostracizado basco fica em campo, quando devia ter sido expulso. Se o fosse, com toda a certeza já não faria o golo. Já em San Mamés, se o árbitro tivesse marcado aquela falta, como devia ter feito, os bascos nunca fariam o 1º golo naquela jogada. Já estamos, portanto e muito redutoramente a falar de 2 golos irregulares, cada 1 à sua maneira.
Para além disso o Sporting é clube sem grande estrelinha. Mesmo quando se empenha e dá tudo, nas grandes decisões as coisas tem uma tendência assustadora para correr mal. Convenhamos, sofrer 2 golos nos descontos, um da 1ª e outro da 2ª parte é obra só ao alcance do Sporting, seja por culpa própria ou alheia.
No entanto, essa falta de estrelinha dá à glória o verdadeiro brilho, porque é com grande esforço, enorme dedicação e uma devoção a toda a prova que as vitrines do museu estão repletas de provas tangíveis.
Em Bucareste, dia 9 de Maio, devia estar o Sporting, porque no conjunto dos dois jogos foi claramente superior (em Lisboa foi na totalidade do jogo e no país basco, repartiu a primeira parte e "deu" a segunda), mas foi traído pela inexperiência de alguns miúdos e pela inépcia de alguns graúdos, mas a glória moral fica connosco e connosco permanecerá sempre, porque amanhã o mundo não se vai lembrar que caímos de pé.

PS: Relembro, a todos os invejosos que durante os dias seguintes têm brincado com a nossa derrota, o seguinte: Para perder como para ganhar seja em que eliminatória for, é preciso, em 1º lugar, lá chegar e esse mérito é inalienável. Ter 3 modalidades a disputar as meias-finais das respectivas competições europeias, só está ao alcance da maior potência desportiva nacional que ainda por cima vive uma das maiores crises financeiras e de identidade da sua história centenária.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Eu sou Abril (não devíamos ser todos?)

Hoje nasci e amanhã quero crescer.
Não quero viver a morte lenta imposta a quem não se impõe, não grita, não chora e não luta. A letargia é já vício nacional na rotunda negligência do pensamento.
Sou e sempre serei Abril. Para mim, o significado é duplo, pois foi o despertar individual, na doçura juvenil, para ideal colectivo que foi sendo assimilado e maturado que hoje, mais do que nunca, se enfatiza.
Mesmo que não sirva para mais nada, sirvo, no limite, para lembrar que nem sempre fomos destituídos (seja na nossa própria limitação, seja na forma como nos tiram tudo), que nem sempre fomos ultrapassados, que nem sempre nos deixámos atropelar pela inevitabilidade do abismo. Sirvo, no limite, para nos lembrar que podemos mudar, que devemos evoluir e não sucumbir ao facilitismo da nossa própria tragédia. Sirvo, no mínimo, para ser livre, honrando os valores da liberdade.
Hoje nasci e amanhã vou crescer, porque eu sou Abril!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

And Now... for something completely different and yet completely similar

Quem não se lembra do "And now for something completely different"? Pelo menos eu lembro-me e fazia todo o sentido sem fazer sentido nenhum. Quem não conhece a frase e o que ela representa (normalmente 1 hora da mais hilariante comédia) que procure os registos de notariado. Adiante.

Hoje falo-vos de uma história de poder, de inveja e de jogos de bastidores.

A trama passa-se entre Paul Peartree Cristobal (PPC) e Ron Paul Figgerhead (RPF), com Louis Goodwin-Lopez (LGL) como intermediário e conta-nos a história de dois membros de um circo que, por terem direcções diferentes, se encontram desavindos, levando o presidente da direcção Goodwin-Lopez à (quase) loucura, mesmo em alegada ignorância.
Paul Peartree Cristobal, de ascendência sul americana, visto que o seu trisavô era descendente de aztecas, incas e espanhóis, é um ex-polícia frustrado, expulso e ostracizado pela força por conduta imprópria e que toda a vida sonhou abraçar a vida circense. Cumpriu parte desse sonho ao ser convidado pelo presidente da direcção do circo para trapezista, cargo em que é apenas sofrível, apesar de, no fundo, querer construir mais mastros debaixo da tendo, tentando aumentar assim o vão e consequentemente o espaço.
Por outro lado, Ron Paul Figgerhead, um palhaço em ascensão, chegado também ele há pouco tempo à actividade circense, com passagens mais ou menos frustrantes por várias casas de strip um pouco por todo o país, como bidon de despejo, aparece no circo como ajudante de palhaço (battatton partener, em francês) e pouco depois, beneficiando da reforma por invalidez do palhaço Barba Rossa, sobe na carreira batatoonesca, para a qual está completamente desfasado. Apesar do desfasamento e queda para a actividade, Figgerhead é astuto e move-se em terrenos pantanosos, conseguindo através de uma concertada palhaçada minar os caminhos de todos os artistas circenses que se lhe atravessem à frente, sempre sorrindo para o seu presidente, Goodwin-Lopez, enquanto palita os dentes com uma chave de fendas.
Louis Goodwin-Lopez, por sua vez, é uma magnata Australo-Peruano da indústria naval de luxo, que se meteu no negócio circense, em primeiro lugar para receber os apoios estatais dados à actividade circense, sendo procurado pelas fiscalizações de 176 países e depois porque era um negócio que convinha ter como fachada, para desenvolvimento de outros assuntos mais prementes.
Segundo se sabe, apesar das inúmeras trafulhices, Goodwin-Lopez não estará a par do que se passa entre Cristobal e Figgerhead e isso poderá despoletar o cair da fachada circense que o presidente tem para lavagem de dinheiro, lavagem de carros, lavagem de roupa suja e lavagem de fornos industriais com jacto de areia.
Cristobal terá, alegadamente e unilateralmente, aliciado um fiscal camarário de seu nome Asterisco Obelisco para tirar dividendos líquidos do aluguer do terreno, pondo-se em vantagem em relação a outros circos, que ofereciam mais e até em relação a uma feira de ciganos que ameaçava a família do fiscal em causa. Instruiu um elefante da sineta do Jardim Jaleca de modo a que este fosse depositar o numerário numa dependência fora do concelho.
No próprio dia, o canhoto do depósito foi deixado em cima do baú de arlequim de Goodwin-Lopez, com outros artigos pertinentes da trama, como uma corneta de plástico magenta, um papa-formigas empalhado ou mesmo uma ferradura de burro do cigano da Venda da Gaita.
Assim que se descobriu que aquele (e não outro) elefante tinha depositado dinheiro naquela dependência, já depois da polícia ter feito uma investigação preliminar ao fiscal Asterisco, percebendo que o envolvimento seria nulo, a investigação virou costas e pôs-se em marcha na direcção de Cristobal.
No exacto momento em que é indiciado, Cristobal renuncia ao seu sonho de criança e, durante três dias, desaparece do circo, sendo dada como desaparecida uma foca amestrada em seu lugar, mas depois vacila, reaparece, treme dos pulsos e pede readmissão, chorando compulsivamente pela sua mãe alentejano-hebraica.
Mal formado (tanto intelectualmente como fisicamente), Figgerhead, apercebe-se da fragilidade do sul-americano com ligações aos pólos planetários pelo sangue de boi almiscarado e, entre sorrisos e servidão intelectual, arranja um esquema para, afastando Cristobal do seu sonho, conquistar-lhe o lugar, subindo assim ainda mais na hierarquia circense.
Goodwin-Lopez, apanhado de surpresa pelo vendaval de parvoíce em que este texto é pródigo, aceita a renúncia de Cristobal, pensando que o circo e todas as actividades a coberto do mesmo ficariam a salvo. Quando percebe que isso dificilmente acontecerá, mete os papéis da reforma antecipada, fragilizando-se ainda mais perante a hierarquia, na esperança de sair do país numa traineira chinesa. Acaba por ter azar porque o Governo acabara, horas antes, de aprovar a lei que proíbe as reformas antecipadas com efeitos retroactivos.
Figgerhead esfrega as mãos. O circo está montado para ele e o holofote já está ligado. Apenas falta um pequeno passo para pôr o verdadeiro batatoon (ele próprio) no centro das atenções e do poder máximo.
Mas Cristobal força a porta , força os cortinados de cetim aveludado por trás dos sofás de flanela roxa e, ao urinar os cortinados da cozinha do circo, não só marca território, como força a  readmissão, não enjeitando para isso a excelente relação que tem com Goodwin-Lopez. É numa reunião entre todos os artistas, direcção, animais e até alguns transeundes, que aprova a readmissão de Cristobal.
Figgerhead retira-se da reunião a meio, frustrado com o passo atrás e com a sua própria incapacidade intelectual para conquistar a vitória, pois, durante os dias que antecederam a reunião magna, foi depositando pistas incriminatórias em vários locais sugestivos. Perante a careca que deixou exposta, sabe que o seu futuro de palhaço, neste circo, ficará comprometido, obrigando-o a mudar-se e começar a escalada de novo. Sabe que o próprio Cristobal encarregar-se-á de o efectivar, entre insultos fraquinhos e outras cabalas menores.
Mais tarde saber-se-á que Cristobal, sob a capa de trapezista, espiava todo o circo, desde a lona da tenda até ao chão de terra batida (de morango), passando obviamente por todos quantos privavam com esses dois elementos, tendo mesmo chegado a encomendar à Ambar um carregamento de pastas às cores com separadores incluídos, afim de tomar o poder, mais tarde ou mais cedo, através da chantagem.
Perceberá Goodwin-Lopez a tempo a trapaça, tão preocupado que está em esconder o verdadeiro objecto da fachada que defende, ou fará parte da mesma?
Chegará Cristobal ao poder pela chantagem ou Figgerhead terá ainda uma palavra a dizer?
Não perca o próximo capítulo... Ou então não.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Circo Cardinal(i)

Hoje acordei com a notícia de que Paulo Pereira Cristóvão (PPC) foi reintegrado como vice-presidente em plenas funções e pergunto-me - com aliás o tenho feito com alguma regularidade no último ano - que Sporting é este que não reconheço?
Voltando um pouco atrás, ao que parece, tudo começou com a tentativa de incriminar de corrupção o assistente José Cardinal. O que se sabe é que PPC instruiu um seu assalariado para se deslocar à Madeira e depositar na conta do assistente 2000 euros em dinheiro, sendo que depois, seria entregue em carta anónima uma denúncia do caso, em Alvalade, que despoletaria todo este processo.
José Cardinal foi investigado, mas rapidamente a PJ deve ter percebido que o envolvimento do assistente não era consistente e apontou os holofotes da investigação para o outro lado.
Ao recuar no tempo e pedir a imagens da dependência bancária, bem como o cruzamento dos dados do voo para a Madeira, percebeu que quem aparecia era Rui Martins, um assalariado de PPC com ligações à JUVE LEO. Somar dois e dois não é difícil e facilmente chegaram ao então vice-presidente do Sporting.
Ao ser indiciado, pede -  e muito bem -  a suspensão de mandato, prontamente aceite pela direcção, por proteger os superiores interesses do Sporting, mas poucas horas depois volta atrás com a decisão pressionando a direcção para "admiti-lo" de volta.
Hoje, após reunião da direcção de ontem, foi readmitido com plenas funções.

A readmissão de PPC enquanto vice-presidente é uma machadada no nome do Sporting e na própria direcção, já muito fragilizada. Não faz absolutamente sentido nenhum que a direcção readmita um vice-presidente que está indiciado num processo-crime ligado justamente ao core business do clube.
Apenas faz sentido à luz da existência de conluio entre as partes e, nesse caso, como em qualquer um dos casos, a única via desta direcção é a demissão.
Mais: A ser verdade que PPC não só expiava árbitros, dirigentes e jogadores, mas a própria direcção de que fazia parte, a readmissão ainda se torna mais inacreditável.

Para mim uma tristeza, como sócio deste clube que nunca, nos seus 106 anos de história, tinha visto o seu nome envolvido neste tipo de casos, que esta direcção, depois do annus horribilis que nos proporcionou, venha agora e mais uma vez defender o indefensável, sistematicamente pondo os superiores interesses do clube atrás dos interesses e agendas pessoais de cada membro eleito.
Para mim, como sócio, hoje como há um ano atrás, a esta direcção só resta um caminho: A demissão. Se restassem dúvidas, hoje foram completamente dissipadas.

terça-feira, 10 de abril de 2012

O paradoxo de crescer, recuando

Durante toda a semana ouvi comentários de supostos entendidos na matéria a dizer que, apesar de ser ser um teste difícil o Benfica tinha mais opções, mais isto, mais aquilo e que com mais ou menos dificuldade deveria vencer em Alvalade. Alguns houve que até foram mais longe reforçando ou, pelo menos, dando a entender, que o Benfica, pela sua qualidade, faria uma espécie de passeio em Alvalade.
Como sportinguista, mas acima de tudo, como amante do desporto e seja em que modalidade ou clube for, fico estupefacto quando a mediocridade profissional e soberba clubística roçam a falta de respeito por instituições como a do Sporting que, tem feito mais do que qualquer outro clube (não é opinião, é facto) pelo desporto português.
Quem jogou à bola ou praticou qualquer outro desporto colectivo sabe que  por o serem, as melhores equipas, com melhor plantel, com mais opções, antes de vencerem os jogos e os títulos têm de os disputar e que, de uma forma muito redutora, acabam por ser 11 contra 11. Nem mais, nem menos. O ser melhor, em teoria e estatística não é condição "sine qua non" para vencer o que quer que seja. Se assim fosse a própria competição nem faria sentido.
E ontem foi isso que aconteceu e só não é mais estrondoso o resultado porque, em vez de São Patrício, como era antevisto quase pela generalidade da imprensa "especializada", houve Santo Artur. E muito.

O Sporting percebeu, para este jogo, duas coisas fundamentais, na minha opinião. A primeira prende-se com o facto de que era ao Benfica quem cabia pegar no jogo e a segunda prende-se com o facto de, jogando mais compacto e agressivo, para além de retirar espaço de progressão ao Benfica, entregaria a iniciativa do jogo a jogadores que não têm essa função, esvaziando a capacidade de construção rápida da equipa encarnada. No fundo, dando um falso passo atrás, obrigando o Benfica a expor-se mais, cresceria e em contra-ataque, saindo ora por Capel, ora por Izmailov, ora por Matías podia decidir o jogo, nunca necessitando de perder organização.
A bem dizer foi esta lição de humildade que, deixando a grandeza (que é nossa por direito) e a soberba de jogar em casa, adoptando uma posição mais pragmática e realista, começou a desenhar a vitória.
O Sporting faz apenas 1 golo, de grande penalidade, mas podia, principalmente na segunda parte, com o jogo mais partido e tendo um avançado mais "batido" (O Liedson teria chamado ao jogo de ontem um figo), ter feito um resultado pornograficamente histórico, se atendermos ao que foi vendido durante a semana e à qualidade teórica das duas equipas. Apenas Artur, em noite inspiradissíma (em contraste com Wolfswinkel) e a trave permitiram ao Benfica, ontem, sair de Alvalade com uma derrota apenas lisonjeira.

Uma palavra para Sá Pinto e com toda a justiça: O final de época que o Sporting está a fazer, longe de ser fantástico, tem sido à imagem do próprio enquanto atleta: pragmático e alicerçado em muita humildade, muito trabalho e abnegação. A equipa é solidária, não tem medo de trabalhar colectivamente e assume a discussão de qualquer contenda como missão. Para além disso, a sagacidade e a capacidade de análise do ainda jovem treinador do Sporting, tem valido, por si só, maior confiança da equipa nas conquistas.
Ontem, assim a brincar, o "há apenas dois meses e meio treinador principal" deu um banho táctico ao decano treinador encarnado, auto-intitulado mestre da táctica.

Apenas uma nota para Jorge Jesus e no seguimento da ideia veiculada em relação a alguma imprensa: Quando não se sabe ganhar, denegrindo todos os outros nas vitórias, muito dificilmente se sabe perder. Ontem, depois da palhaçada da "se a minha avó tivesse colhões, muito provavelmente seria o meu avô", relativamente a um suposto penálti ao minuto 1, ainda diz, minutos depois, que a melhor oportunidade da 2ª parte acaba por ser do Benfica. Nem vou comentar e apenas faço minhas as palavras do Manuel Machado: " um vintém é um vintém e um cretino é um cretino".
Tirem as ilações que entenderem.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Nas luvas de Rui Patrício

Há alguns anos, ainda com Paulo Bento no comando, quando este jovem, de nome Rui Patrício, subiu à primeira equipa que lhe auguro um futuro promissor e sustentado. Desde o primeiro momento que sabia que tinha todas as condições (assim o deixassem evoluir) para ser um dos melhores guarda-redes da Europa. E não tem a ver só com o ser do Sporting. Tem a ver essencialmente com as características e qualidades intrínsecas do próprio atleta. Obviamente que nos primeiros anos, fruto da sua juventude e falta de maturidade competitiva, foi cometendo alguns erros, mas, para mim, os erros não apagavam minimamente a enorme qualidade que um "puto" de 20 anos demonstrava num lugar tão específico e escrutinado como é o lugar de guarda-redes.
Hoje, passados alguns anos desde a sua chegada à primeira equipa, é efectivamente um guarda-redes de mão cheia, daqueles que dá pontos, eliminatórias e títulos. Fundamentalmente porque soube ser humilde e evoluir em aspectos que não dominava tão bem, e especializar-se ainda mais nos aspectos em que tinha talento. Prova disso é que o Sporting já não treme pelo seu guarda-redes, e mesmo que o faça em relação à sua defesa (não tantas vezes como num passado recente, felizmente), Rui Patrício tem sobrado em confiança. Ele é saídas rápidas aos pés dos avançados, ele é defesas espectaculares entre os postes, ele é técnica superior em tapar os ângulos com a chamada "mancha" e até nos cruzamentos, a grande pecha de Patrício no passado, hoje, é uma mais valia. No fundo, o talento aliado a muito trabalho de melhoramento em aspectos menos conseguidos, impôs-se definitivamente e o Sporting é o primeiro beneficiado dessa evolução.
Ontem assistimos a mais um festival de Rui Patrício. É absolutamente vital na conservação do resultado da primeira mão, na primeira parte, com 3 ou 4 grandes defesas e na segunda, embora tenha sofrido um golo, defende superiormente um penálti e ainda transmite enorme segurança à defesa, "dizendo" claramente à equipa que não seria por ele que o Sporting seria eliminado.

O Sporting não jogou bem, muito longe disso, e na minha opinião sofreu desnecessariamente num jogo em que podia e devia ter conservado a bola melhor e durante mais tempo. O que aconteceu foi exactamente o oposto. Uma equipa a acusar em demasia a responsabilidade e a perder bolas com demasiada facilidade.
A primeira parte foi de expectativa. O Sporting deu demasiada bola ao Metalist, que tem, de facto e do meio campo para a frente, uma excelente equipa e defendemos demasiado em cima da nossa área. Isto aliado ao facto de nem André Martins, nem Schaars, nem Matías e nem Izmailov conseguirem pegar no jogo, o Sporting foi completamente dominado durante os primeiros 44 minutos, sem que houvesse vislumbre de mudança.
Até que, do nada e apenas na 2ª vez que o Sporting chega à área contrária, Capel inventa um cruzamento (assustador é perceber que é com o seu pior pé e, de facto, sai um cruzamento com conta, peso e medida) e Wolfswinkel inventa um golo, mesmo à beira do intervalo. Melhor tónico que este, impossível. Os ucranianos teriam assim, para pelo menos igualar a eliminatória, que marcar dois golos.
Para a segunda parte, o Sporting recua mais, tenta concentrar linhas, mas, sem que desse para perceber se estava a resultar ou não, o Metalist desfaz a vantagem logo na entrada, já depois de quase a desfazer numa inacreditável desatenção da defesa.
Sá Pinto mexe, tira Matías que nunca se encontrou verdadeiramente e mete Renato Neto, fixando a posição 6 e dando mais músculo à intermediária defensiva. Adiantou André Martins para 10 e povoou melhor o meio-campo. Antes que se pudesse, mais uma vez, ver resultados da mudança, o Metalist beneficia de um penálti muito discutível. O Sporting tinha a eliminatória em risco, porque se o Metalist marcasse, igualava o resultado de Lisboa e deixava tudo em aberto para os últimos 20 minutos. Rui Patrício volta a gritar, a plenos pulmões, "presente", defendendo o penálti e a eliminatória. O Sporting suspira de alívio e a partir daí o jogo, propriamente dito, acabou.
Sá Pinto promove mais duas substituições. Troca André Martins por André Santos, fecha ainda mais o meio-campo e troca Capel por Evaldo, fechando claramente o lado esquerdo. O técnico do Metalist, ainda tentou, metendo a carne toda no assador, mas não mais o Metalist conseguiu criar perigo eminente.

Na eliminatória com o City o Sporting foi superior em 150 dos 180 minutos, acabando por, nos últimos 30 quase deitar tudo a perder, por um assomo de identidade de última hora dos ingleses, fazendo jus ao astronómico orçamento, mas nesta eliminatória o Sporting teve mais fortuna do que pode augurar. Em Alvalade, deixou para a segunda parte as despesas do jogo, mas recuou demasiado cedo, convicto na vantagem de dois golos e ontem deu demasiado jogo a uma equipa perigosíssima e que, na minha opinião, tal como mostrou na 1ª mão, bem pressionada teria cometido mais erros, fazendo com que não se sentisse tão confortável no jogo como ontem se sentiu. Valeu-nos Rui Patrício, tanto na eliminatória com o City, como na com o Metalist e espero que nos valha sempre, mas claramente o Sporting tem obrigação de fazer mais, ter mais bola e não recuar em demasia. Tem jogadores para isso.

Na Liga Europa, segue-se o Athletic de Bilbau, do "louco" Marcelo Bielsa, um dos treinadores de que mais gosto. É uma equipa portentosa, apesar de ter a suposta condicionante de só jogarem bascos. O Sporting tem que fazer um excelente resultado em casa se quer aspirar a passar à final, porque o ambiente em San Mamés é simplesmente infernal.
Inteligentes, pragmáticos, mas a assumir aquilo que há para assumir, até porque na minha perspectiva, dar bola a um adversário destes, pode mesmo ser a morte do artista.

Apenas uma nota para o jogo de Leiria: Jogo fraquinho em que o resultado, apesar de inteiramente justo, acaba por ser a única nota de destaque. O Sporting está claramente focalizado na Liga Europa.