segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A indignação é uma faca de dois gumes... para alguns

Já não escrevo aqui há uns meses valentes. Não senti durante esse período de tempo nenhuma necessidade nem vontade especial de o fazer até hoje.
Tenho acompanhado a indignação gerada à volta dos jogos do Sporting com alguma satisfação, não porque o benefício me seja particularmente satisfatório, que não o é, mas porque eu sei que a indignação gerada à volta dos mesmos não se prende com isso. Antes penso que se prende com o facto de o Sporting com um décimo do investimento de Benfica e Porto, com uma média de idades bem inferior e, mais importante, sem grandes nomes de cartaz, estar a fazer o mesmo, senão melhor, do que os dois outros.

A indignação é lixada. E em Portugal, ela é ainda mais lixada porque normalmente assenta em pressupostos que só são aplicáveis aos outros. É uma chatice, como coerência intelectual, quando temos que nos indignar na mesma medida em assuntos similares, mas em que o beneficiário somos nós. Normalmente o caso muda de figura o que se configura numa figura bem portuguesa chamada desonestidade intelectual que é transversal à nossa sociedade. Desde o pináculo até à base, toda a gente usa e abusa da desonestidade intelectual de apontar aos outros os defeitos que não somos capazes de desvendar em nós próprios.
Vem isto a propósito do golo (mal) anulado ao Sporting no Sábado, diante do Nacional e dos casos dos jogos que lhe antecederam.

Tenho visto, desde o princípio do campeonato muita gente indignada com os foras-de-jogo do Montero, em jogos que o Sporting até venceu confortavelmente. De facto eles existiram, mas muitos deles precisam de pelo menos uma repetição para serem descortinados. Repetição essa que o auxiliar não beneficia em tempo real. Obvimanente que não é isso que faz com que deixem de ser erros. São-no na sua plenitude e sou contra isso.

Por outro lado, ainda a semana passada, num jogo em que o Benfica venceu em Olhão por 3-2, um dos golos do Benfica é obtido na posição de fora-de-jogo. Por mim tudo bem, acontece. Por uma questão de coerência, não serei eu a trazer esse lance à baila, senão apenas para atestar e fundamentar o meu caso. Porém, no final desse mesmo jogo, os mesmos que andam há meses a indignar-se com os foras-de-jogo alheios, sobre o lance capital, nem uma palavra e é facto que, linearmente, o Benfica tira vantagem no resultado final de um lance irregular. Relembro que o resultado foi 3-2 e não 5-0.

Mas a indignação atingiu um novo patamar no jogo do Sporting com o Belenenses, com aquele lance caricato que é transformado em penálti. Faço desde já uma declaração de intenções em relação ao lance dizendo que, na minha opinião, há falta (braço não é ombro), mas ela é fora-da-área, ainda que no limite. Acerca desse lance, os indignados do costume bradaram aos ventos todos a atestar a roubalheira, mas minutos depois, deviam estar com a televisão apagada, porque não viram um penálti claro sobre o Montero que até seria bem mais penalizador para o Beleneneses, pois ficaria, como mandam as leis, reduzido a 10. Sobre o primeiro lance a indignação total, mas sobre o segundo, mais uma vez, nem uma palavra. E neste caso nem são dias de diferença, são minutos.

No Sábado, mais uma vez, o lance é legal (duvido inclusive que haja contacto), daria o primeiro e talvez único golo do jogo, portanto e por esse prisma acredito que tem influência clara no resultado e essa influência é abismalmente maior do que um fora-de-jogo que dá golo quando o resultado é 5-0.
E até hoje continuo à espera dos indignados do costume.

Volto a escrever o que uma vez escrevi aqui. Se há coisa que os adeptos de Benfica e Porto não têm moral absolutamente nenhum para se queixar é das arbitragens. Nem para se queixar das deles nem para indignar com as dos outros, porque olhando para a história do futebol em Portugal, os dois clubes em questão, têm muitos troféus nas suas vitrines manchados por uma espécie de névoa com muitos episódios mal explicados.

Como diz o povo: "Ou há moralidade ou comem todos".
Neste país em quase todas as matérias, há uma imoralidade crescente e comem muito poucos.

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