domingo, 19 de maio de 2013

A eloquência dos números

Numa altura em que o meu clube vence calmamente o seu jogo perante o quase despromovido Beira-Mar, no último suspiro da época, creio ser a altura de fazer um balanço. Mais do que o balanço desta época, importa, à luz dos números, perceber-se porque é que o Sporting chegou ao momento de exibir a sua pior cara, num ano marcado pelo transbordar do copo, definitivamente.

É claro, para mim, perceber que até ao início dos anos 80, o Sporting exibia ainda uma muito boa pujança. Coincidências ou não, a saída de João Rocha da presidência fez uma espécie de canto do cisne na influência do Sporting no futebol português. Seguiram-se presidências más, presidências quase inexistentes que arrancaram ao Sporting grande parte da pujança que ainda resistia. Até aparecer Sousa Cintra.
Sousa Cintra, apesar de ter ganho pouco como presidente, restituiu muito do amor-próprio que durante quase todos os anos 80 o Sporting tinha perdido. A sua saída acabou por redundar naquilo que hoje vivemos. Um project finance que - percebe-se hoje -, tinha como único objectivo tornar o Sporting numa empresa e tornar os sócios em clientes, como se de uma dependência bancária se tratasse. Vendeu-se tudo, os anéis e as pulseiras, deixando o Sporting, um dos clubes com maior património em Portugal, quase sem activos para meter no "prego", num dia de chuva.

Se olharmos para os números que apresento abaixo, perceber-se-á que o Sporting tem vindo a perder influência de há décadas a esta parte. Influência na decisão e influência no quadro de honra, no que a futebol profissional diz respeito.
É claro e óbvio, numa altura em que se centram no rival da 2ª circular todas as nossas frustrações, servindo, inclusive, em muitas situações para esquecermos os nossos (muitos) porblemas internos, é assustador, aquilo que o Sporting perdeu, não para o Benfica, mas para o Porto.

Cada um tire as suas conclusões.
Dou uma ajuda para que se perceba que os rivais têm de ser tratados como tal e de igual modo. O facto de o não termos feito, acabou por contribuir para "darmos o flanco" a um deles e esse aproveitou e  de que maneira.

Como poderão constatar, na entrada dos anos 80, que coincide com a saída de João Rocha e a entrada de Pinto da Costa, O Sporting tinha 15 campeonatos, o Benfica 23 e o Porto 7 (???).
33 anos anos depois, as contas são simples: Sporting ganhou mais 3, o Benfica ganhou mais 9 e o Porto ganhou mais 20 (???)
Se considerarmos apenas a partir dos anos 90, o Sporting tinha 16, o Benfica 28, e o Porto 11.
23 anos depois, o Sporting ganhou mais 2, o Benfica mais 4 e o Porto mais 16 (??), sendo que nesta década limpou os 3 primeiros.

Acho que a reflexão tem de ser profunda para potenciarmos o futuro que queremos para um Sporting forte e não subserviente como o foi nos últimos 30 anos.

Já acordámos parcialmente da letargia ao "deslambuçarmos" o clube, mas isso só não chega e o facto de atingirmos hoje a pior classificação de sempre pode servir para tornar essa reflexão um exercício positivo.
Um 6º lugar em aexequo, que na realidade conta como 7º, porque não conseguimos vencer uma só vez o Rio Ave, tem que dar que pensar, bem como a diferença pontual para os primeiros.

Para quem diz que os orçamentos fazem os campeões, olhe-se com olhos de ver para o Paços, que com um dos orçamentos mais baixos da Liga consegue o que muitos analistas dizem ser impossível, contrariando o bando de escrivãos da praça. E por mérito próprio.

Só nos resta, num futuro próximo, pegarmos na ideia e construirmos um futuro carregado de títulos.

domingo, 12 de maio de 2013

Bater no fundo

Há demasiado tempo que o digo e hoje, perante a constatação clara e inequívoca da realidade, digo-o com mais veemência: O Sporting tem de olhar para dentro, reorganizar-se e crescer sustentadamente. Leve o tempo que levar. Andarmos a enganar-nos a dizer que podemos chegar e fazer, sem lançar as bases daquilo que é realmente importante, é brincar com o futuro de uma instituição única e centenária.

A verdade é que este bater no fundo que hoje se efectivou (a pior época de sempre que culminou com a não ida à Europa) é um wake up call que, na minha óptica, levou demasiado tempo para acontecer. Temos ficado demasiado tempo a demasiados pontos do primeiro lugar - o que devia, por si só, funcionar como alerta -, para alguém no seu perfeito juízo, vir dizer que este desfecho não era previsível. O desfecho acaba por ser o culminar de quase duas décadas de roquetismo que levaram o clube à ruína financeira e à quase ruína desportiva, da qual o clube se tem safado, nos últimos anos, in extemis. Até hoje.

Obviamente que os sportinguistas se sentem tristes pela não ida à Europa, não só porque isso é um tão necessário encaixe financeiro, tão grande quanto for o desempenho, mas acima de tudo pelo prestígio que confere a quem enverga a camisola listada verde e branca.

No entanto, na minha humilde opinião, a não ida à Europa tem os seus lados positivos, por muito que nos custe admiti-lo.
Desde logo porque o Sporting precisa, com urgência, de se reinventar, a partir da formação, que é uma ideia que eu considero muito boa. Ainda por cima com escola (entretanto abandonada sabe-se lá a que propósito) no próprio clube, mas que precisa de ser trabalhada em qualidade e exigência, para num futuro próximo poder cumprir os seus reais desígnios: Fornecer a matéria-prima para a 1ª equipa, sempre.
Depois porque o clube pode viver um ano de maior rigor desportivo e financeiro e lançar, a esse nível, as bases de um futuro.
Convenhamos que será mais fácil começar a aplicar um modelo assente na formação quando o prestígio ou o "financiamento" europeus não correm o risco de ser postos em causa e quando os objectivos são apenas de consumo interno.

Na próxima época o Sporting tem a hipótese clara de lançar as próximas décadas douradas.
Basta que consiga aproveitar um verdadeiro "ano zero" para fazer as reformas e mudar aquilo que tem de ser mudado. Com calma e preseverança, com exigência e profissionalismo, com competência e vontade, o fundo onde batemos hoje, pode ser o trampolim de amanhã. E o primeiro passo já foi dado a 26 de Março.