domingo, 4 de janeiro de 2015

Não (, Ca*****)! Ou a vã glória de mandar.



Sinceramente não pensei reactivar o Kracken, pois achei que o Sporting tinha encontrado o seu rumo, finalmente. Tal, hoje, é totalmente posto em causa pelos recentes acontecimentos que, poucos conseguem perceber na totalidade. Há precisamente (mais dia menos dia) 2 anos tinha aqui escrito um artigo com um nome similar, fazendo referência a uma das obras-primas de mestre Oliveira e que rezava o seguinte. Falava - pasme-se - basicamente do mesmo, porém com outros protagonistas e noutro lugar da história e que só estes tristes acontecimentos nos fazem desenterrar.

Para que fique claro, votei Bruno de Carvalho, pelo projecto apresentado. Pareceu-me totalmente coerente e alinhado com o que eu próprio, como sócio ou adepto, pensava. Se nos primeiros tempos de mandato, o saldo foi francamente extraordinário, com o mais premente a ser resolvido com distinção, principalmente na parte financeira e burocrática (renegociação da dívida, início da reestruturação financeira e posta em marcha a auditoria financeira e posteriormente de gestão), aliado a um desempenho desportivo muito acima das expectativas, sem esquecer as inúmeras frentes de batalha abertas aos poderes instituídos (Fundos, agentes, sistema, etc), os últimos meses têm sido, tanto a nível de comunicação (desastrosa) como de organização do edifício Sporting (sofrível), um autêntico desastre. Principalmente de dentro para dentro...

Desde a comunicação, via facebook (?), após a derrota em Guimarães, que parece o presidente do Sporting têm mantido o tom errático nas suas comunicações pessoais e institucionais, o que tem gerado (não me espanta), tanto internamente como externamente, uma surpresa quase geral. A própria imagem de BdC tornou-se mais opaca, pois desconhecem-se as motivações para algumas das intervenções que parecem redundar em nada mais do que auto-flagelação institucional.  

É de todo imperceptível como é que um Presidente que teve como uma das suas bandeiras a transparência é, ele próprio, nesta questão, quem mais a enevoa. Primeiro porque não é, nem quer ser claro, com referências abstractas à assunção de responsabilidades quando elas são inerentes a cada cargo e depois, porque deixa um assunto interno, desenvolver-se perigosamente na praça pública. Parece não haver gabinetes tanto em Alcochete como em Alvalade e até parecem presidente e treinador de clubes diferentes.

Eu só percebo que o Sporting institucionalmente ainda não tenha repudiado veementemente as declarações e o artigo do José Eduardo (JE), se, como parece, tenha sido o Sporting a encomendá-lo. E só não percebe isto quem é burro.

Porque das duas uma: Ou o Marco Silva (MS) é o diabo que JE fala e o Sporting e o seu presidente ficam mal na fotografia por deixarem sequer MS entrar nas instalações do clube ou MS foi vilipendiado no seu carácter e no seu profissionalismo (embora muito menos) cobarde e abominavelmente e o Sporting tem a obrigação institucional de ser o primeiro a defender um investimento de 4 anos.

Em qualquer um dos casos, já toda a gente percebeu que, institucionalmente o Sporting não pode estar em posse de todas as suas capacidades. Este é claramente um assunto em que ou é branco ou é preto, pois não há nenhuma "grey area" nem a possibilidade de um "politicamente correcto" perante acusações tão graves.

Mais: Quem lê o artigo percebe desde logo que não há uma só prova que o sustente, daí o artigo centrar a sua quase totalidade na avaliação negativa do carácter de MS e isso é tão rasteiro que só está ao alcance de vermes e de verbos de encher. Se fosse um lampião ou um tripeiro a fazê-lo, caía-lhe tudo em cima. Como é o JE, para a direcção, parece fazer parte da cartilha e a pergunta que se impõe é: Quem é JE e quais são os seus interesses para fazer um ataque sem precedentes a um profissional do Sporting? Importa perguntar, porque se percebe, porque é que sai um artigo deste tipo (com um alvo claramente definido internamente) numa altura em que institucionalmente o Sporting vivia (vive) um período de Blackout?

E deixem-me dar-vos um testemunho de competência. Ninguém, sem trabalho de qualidade e competência, pega numa equipa a meio da época nos últimos lugares e leva-a a ser campeã da 2ª liga. Mais, depois disso, já na 1ª, leva a sua equipa dois anos seguidos às provas europeias.
Não sei o que as pessoas chamam a isto, mas eu costumo chamar de competência e qualidade de trabalho.

A competência não é (nem pode ser), pois, o motivo de toda esta celeuma. Celeuma essa que foi criada internamente sabe-se lá com que absurdo objectivo.

Se formos ver a realidade que a vitória seguríssima, com momentos de grande brilhantismo, obtida hoje em Alvalade sobre o Estoril, só vem confirmar, percebe-se que a época não estando, de todo, a ser brilhante,ainda não acabou. E não acabou pelas razões óbvias de só terminar em Maio e das menos óbvias de o Sporting estar ainda (é o único dos grandes) nas 4 frentes com grande probabilidade de ganhar qualquer uma delas, ainda que o campeonato seja muito mais complicado.
De facto, na Liga, estamos a 10 pontos do 1º (hoje 7) e a apenas 4 pontos do 2º. Repito, não sendo brilhante, nada está perdido de forma categórica.
 
Olhemos então para a outra parte da realidade. A equipa base do Sporting é a do ano passado, pelo que se conclui facilmente, e isso parece-me tácito, é que nenhum dos “reforços”, tirando o Nani (é de outro nível), o Jonathan (entra facilmente na equipa sem perdermos qualidade) e o Paulo Oliveira (claramente o melhor central que temos), entra de caras nesta equipa sem que se perca, factualmente, qualidade. O que quer dizer que, perante as dificuldades financeiras, comprou-se muito e acertou-se muito pouco. Se a equipa o ano passado ia tentar lutar pelo título, o que conseguiu até onde deixaram, a mesma equipa um ano depois, não pode ter como objectivo ser campeã do Mundo (figurativamente). Simplesmente não faz sentido. E é aqui que penso, na dicotomia entre definição de objectivos versus meios postos à disposição, que a coisa se complicou.

Há hoje mesmo uma nova declaração do Presidente Bruno de Carvalho a pôr uma pedra no assunto sem nunca, categoricamente, repudiar as declarações de JE, o que continua a levantar demasiadas questões.  As mesmas levantadas por este suposto travão às 4 rodas e respectiva marcha-atrás em 2 rodas numa posição assumida há pouco menos de um mês e na narrativa desde então demonstrada.
A questão parece-me, no entanto, muito bem num ponto que é deveras importante que é o da assunção do erro. A humildade com que o Presidente deu a cara é de salutar. A questão que se levanta é se será essa humildade demonstada conjectural ou estrutural. Se for estrutural, percebeu de uma vez por todas que, nem ele, está acima do Sporting e nem o bom trabalho prestado ao clube o salva de, numa má decisão, ser arrastado pela mesma. Se for conjectural a história não acaba aqui, infelizmente, e a qualquer momento dentro de uma abstracção gratuita e inexplicável que dominou o último mês do clube, este tipo de episódios repetir-se-ão e esta assunção de erro não passou de uma cobardia perante a evidência (apoio massivo a MS neste diferendo) de o chão lhe estar a fugir.
Para bem do clube, porque continuo a achar que ele pode ser "o" Presidente se se souber demarcar da lógica errática que todos conseguimos identificar nos últimos meses, concentrar-se no seu papel institucional e deixar que quem ele próprio contratou possa, de facto, fazer o seu trabalho, dentro da paz que as situações exigem.

O Presidente do Sporting, para concluir, tem de perceber três coisas:
1. Ser uma solução para o clube, que todos achamos ser a melhor, não faz dele “a” única solução. A ideia do “eu ou o caos” não colhe e nem sequer devia fazer parte do léxico deste novo Sporting e põe naturalmente em causa tudo o que de bom foi feito até aqui. Não devia, de facto, mas a gravidade de uma pessoa achar-se mais do que o clube é inadmissível, principalmente vindo de quem tinha a negação dessa ideia como bandeira.
 
2. Gerir não é mandar abstractamente . É, acima de tudo, escolher competência e delegar em quem nos pode ajudar a vencer. Tendo sempre a ideia de dar todos os meios possíveis a cada elemento para poder fazer o seu trabalho com a competência que lhes é reconhecida. Mais, o sentido crítico ou um pensamento que diverge do nosso, é uma mais-valia em qualquer instituição. Só um líder rasteiro é que quer Yes Men perto dele. Os Yes Men podem ajudar ao ego de um líder, mas não ajudam o líder, nem a liderar, muito menos a melhorar.

3. Despedir MS, configura uma falha na mesma linha dos despedimentos de Bobby Robson e Malcom Allison. Treinadores com provas firmadas que foram postos à margem do clube por situações  muito pouco claras e/ou sustentadas. Cometer um erro destes depois de duas situações similares que correram mal com tudo aquilo que trouxe de negativo ao clube, nomeadamente na seca que se seguiu a ambas entra naquela ideia do Einstein que dizia que, e passo a citar, “ insanidade é fazer a mesma coisa e esperar resultados diferentes”.

PS: Ao fim da noite, José Eduardo esteve presente num programa onde, depois da tentativa de assassínio de carácter de Marco Silva sem que, no entanto, tivesse algo que o sustentasse, acabou por fazer um homicídio de carácter. Negar evidências, para mim, é revelador da baixeza que assiste José Eduardo, mas para esse peditório darei noutra altura, até porque para quem viu o programa percebeu que, como o meu pai diz, JE "está apresentado e despedido".

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

A indignação é uma faca de dois gumes... para alguns

Já não escrevo aqui há uns meses valentes. Não senti durante esse período de tempo nenhuma necessidade nem vontade especial de o fazer até hoje.
Tenho acompanhado a indignação gerada à volta dos jogos do Sporting com alguma satisfação, não porque o benefício me seja particularmente satisfatório, que não o é, mas porque eu sei que a indignação gerada à volta dos mesmos não se prende com isso. Antes penso que se prende com o facto de o Sporting com um décimo do investimento de Benfica e Porto, com uma média de idades bem inferior e, mais importante, sem grandes nomes de cartaz, estar a fazer o mesmo, senão melhor, do que os dois outros.

A indignação é lixada. E em Portugal, ela é ainda mais lixada porque normalmente assenta em pressupostos que só são aplicáveis aos outros. É uma chatice, como coerência intelectual, quando temos que nos indignar na mesma medida em assuntos similares, mas em que o beneficiário somos nós. Normalmente o caso muda de figura o que se configura numa figura bem portuguesa chamada desonestidade intelectual que é transversal à nossa sociedade. Desde o pináculo até à base, toda a gente usa e abusa da desonestidade intelectual de apontar aos outros os defeitos que não somos capazes de desvendar em nós próprios.
Vem isto a propósito do golo (mal) anulado ao Sporting no Sábado, diante do Nacional e dos casos dos jogos que lhe antecederam.

Tenho visto, desde o princípio do campeonato muita gente indignada com os foras-de-jogo do Montero, em jogos que o Sporting até venceu confortavelmente. De facto eles existiram, mas muitos deles precisam de pelo menos uma repetição para serem descortinados. Repetição essa que o auxiliar não beneficia em tempo real. Obvimanente que não é isso que faz com que deixem de ser erros. São-no na sua plenitude e sou contra isso.

Por outro lado, ainda a semana passada, num jogo em que o Benfica venceu em Olhão por 3-2, um dos golos do Benfica é obtido na posição de fora-de-jogo. Por mim tudo bem, acontece. Por uma questão de coerência, não serei eu a trazer esse lance à baila, senão apenas para atestar e fundamentar o meu caso. Porém, no final desse mesmo jogo, os mesmos que andam há meses a indignar-se com os foras-de-jogo alheios, sobre o lance capital, nem uma palavra e é facto que, linearmente, o Benfica tira vantagem no resultado final de um lance irregular. Relembro que o resultado foi 3-2 e não 5-0.

Mas a indignação atingiu um novo patamar no jogo do Sporting com o Belenenses, com aquele lance caricato que é transformado em penálti. Faço desde já uma declaração de intenções em relação ao lance dizendo que, na minha opinião, há falta (braço não é ombro), mas ela é fora-da-área, ainda que no limite. Acerca desse lance, os indignados do costume bradaram aos ventos todos a atestar a roubalheira, mas minutos depois, deviam estar com a televisão apagada, porque não viram um penálti claro sobre o Montero que até seria bem mais penalizador para o Beleneneses, pois ficaria, como mandam as leis, reduzido a 10. Sobre o primeiro lance a indignação total, mas sobre o segundo, mais uma vez, nem uma palavra. E neste caso nem são dias de diferença, são minutos.

No Sábado, mais uma vez, o lance é legal (duvido inclusive que haja contacto), daria o primeiro e talvez único golo do jogo, portanto e por esse prisma acredito que tem influência clara no resultado e essa influência é abismalmente maior do que um fora-de-jogo que dá golo quando o resultado é 5-0.
E até hoje continuo à espera dos indignados do costume.

Volto a escrever o que uma vez escrevi aqui. Se há coisa que os adeptos de Benfica e Porto não têm moral absolutamente nenhum para se queixar é das arbitragens. Nem para se queixar das deles nem para indignar com as dos outros, porque olhando para a história do futebol em Portugal, os dois clubes em questão, têm muitos troféus nas suas vitrines manchados por uma espécie de névoa com muitos episódios mal explicados.

Como diz o povo: "Ou há moralidade ou comem todos".
Neste país em quase todas as matérias, há uma imoralidade crescente e comem muito poucos.

domingo, 19 de maio de 2013

A eloquência dos números

Numa altura em que o meu clube vence calmamente o seu jogo perante o quase despromovido Beira-Mar, no último suspiro da época, creio ser a altura de fazer um balanço. Mais do que o balanço desta época, importa, à luz dos números, perceber-se porque é que o Sporting chegou ao momento de exibir a sua pior cara, num ano marcado pelo transbordar do copo, definitivamente.

É claro, para mim, perceber que até ao início dos anos 80, o Sporting exibia ainda uma muito boa pujança. Coincidências ou não, a saída de João Rocha da presidência fez uma espécie de canto do cisne na influência do Sporting no futebol português. Seguiram-se presidências más, presidências quase inexistentes que arrancaram ao Sporting grande parte da pujança que ainda resistia. Até aparecer Sousa Cintra.
Sousa Cintra, apesar de ter ganho pouco como presidente, restituiu muito do amor-próprio que durante quase todos os anos 80 o Sporting tinha perdido. A sua saída acabou por redundar naquilo que hoje vivemos. Um project finance que - percebe-se hoje -, tinha como único objectivo tornar o Sporting numa empresa e tornar os sócios em clientes, como se de uma dependência bancária se tratasse. Vendeu-se tudo, os anéis e as pulseiras, deixando o Sporting, um dos clubes com maior património em Portugal, quase sem activos para meter no "prego", num dia de chuva.

Se olharmos para os números que apresento abaixo, perceber-se-á que o Sporting tem vindo a perder influência de há décadas a esta parte. Influência na decisão e influência no quadro de honra, no que a futebol profissional diz respeito.
É claro e óbvio, numa altura em que se centram no rival da 2ª circular todas as nossas frustrações, servindo, inclusive, em muitas situações para esquecermos os nossos (muitos) porblemas internos, é assustador, aquilo que o Sporting perdeu, não para o Benfica, mas para o Porto.

Cada um tire as suas conclusões.
Dou uma ajuda para que se perceba que os rivais têm de ser tratados como tal e de igual modo. O facto de o não termos feito, acabou por contribuir para "darmos o flanco" a um deles e esse aproveitou e  de que maneira.

Como poderão constatar, na entrada dos anos 80, que coincide com a saída de João Rocha e a entrada de Pinto da Costa, O Sporting tinha 15 campeonatos, o Benfica 23 e o Porto 7 (???).
33 anos anos depois, as contas são simples: Sporting ganhou mais 3, o Benfica ganhou mais 9 e o Porto ganhou mais 20 (???)
Se considerarmos apenas a partir dos anos 90, o Sporting tinha 16, o Benfica 28, e o Porto 11.
23 anos depois, o Sporting ganhou mais 2, o Benfica mais 4 e o Porto mais 16 (??), sendo que nesta década limpou os 3 primeiros.

Acho que a reflexão tem de ser profunda para potenciarmos o futuro que queremos para um Sporting forte e não subserviente como o foi nos últimos 30 anos.

Já acordámos parcialmente da letargia ao "deslambuçarmos" o clube, mas isso só não chega e o facto de atingirmos hoje a pior classificação de sempre pode servir para tornar essa reflexão um exercício positivo.
Um 6º lugar em aexequo, que na realidade conta como 7º, porque não conseguimos vencer uma só vez o Rio Ave, tem que dar que pensar, bem como a diferença pontual para os primeiros.

Para quem diz que os orçamentos fazem os campeões, olhe-se com olhos de ver para o Paços, que com um dos orçamentos mais baixos da Liga consegue o que muitos analistas dizem ser impossível, contrariando o bando de escrivãos da praça. E por mérito próprio.

Só nos resta, num futuro próximo, pegarmos na ideia e construirmos um futuro carregado de títulos.