sexta-feira, 6 de abril de 2012

Nas luvas de Rui Patrício

Há alguns anos, ainda com Paulo Bento no comando, quando este jovem, de nome Rui Patrício, subiu à primeira equipa que lhe auguro um futuro promissor e sustentado. Desde o primeiro momento que sabia que tinha todas as condições (assim o deixassem evoluir) para ser um dos melhores guarda-redes da Europa. E não tem a ver só com o ser do Sporting. Tem a ver essencialmente com as características e qualidades intrínsecas do próprio atleta. Obviamente que nos primeiros anos, fruto da sua juventude e falta de maturidade competitiva, foi cometendo alguns erros, mas, para mim, os erros não apagavam minimamente a enorme qualidade que um "puto" de 20 anos demonstrava num lugar tão específico e escrutinado como é o lugar de guarda-redes.
Hoje, passados alguns anos desde a sua chegada à primeira equipa, é efectivamente um guarda-redes de mão cheia, daqueles que dá pontos, eliminatórias e títulos. Fundamentalmente porque soube ser humilde e evoluir em aspectos que não dominava tão bem, e especializar-se ainda mais nos aspectos em que tinha talento. Prova disso é que o Sporting já não treme pelo seu guarda-redes, e mesmo que o faça em relação à sua defesa (não tantas vezes como num passado recente, felizmente), Rui Patrício tem sobrado em confiança. Ele é saídas rápidas aos pés dos avançados, ele é defesas espectaculares entre os postes, ele é técnica superior em tapar os ângulos com a chamada "mancha" e até nos cruzamentos, a grande pecha de Patrício no passado, hoje, é uma mais valia. No fundo, o talento aliado a muito trabalho de melhoramento em aspectos menos conseguidos, impôs-se definitivamente e o Sporting é o primeiro beneficiado dessa evolução.
Ontem assistimos a mais um festival de Rui Patrício. É absolutamente vital na conservação do resultado da primeira mão, na primeira parte, com 3 ou 4 grandes defesas e na segunda, embora tenha sofrido um golo, defende superiormente um penálti e ainda transmite enorme segurança à defesa, "dizendo" claramente à equipa que não seria por ele que o Sporting seria eliminado.

O Sporting não jogou bem, muito longe disso, e na minha opinião sofreu desnecessariamente num jogo em que podia e devia ter conservado a bola melhor e durante mais tempo. O que aconteceu foi exactamente o oposto. Uma equipa a acusar em demasia a responsabilidade e a perder bolas com demasiada facilidade.
A primeira parte foi de expectativa. O Sporting deu demasiada bola ao Metalist, que tem, de facto e do meio campo para a frente, uma excelente equipa e defendemos demasiado em cima da nossa área. Isto aliado ao facto de nem André Martins, nem Schaars, nem Matías e nem Izmailov conseguirem pegar no jogo, o Sporting foi completamente dominado durante os primeiros 44 minutos, sem que houvesse vislumbre de mudança.
Até que, do nada e apenas na 2ª vez que o Sporting chega à área contrária, Capel inventa um cruzamento (assustador é perceber que é com o seu pior pé e, de facto, sai um cruzamento com conta, peso e medida) e Wolfswinkel inventa um golo, mesmo à beira do intervalo. Melhor tónico que este, impossível. Os ucranianos teriam assim, para pelo menos igualar a eliminatória, que marcar dois golos.
Para a segunda parte, o Sporting recua mais, tenta concentrar linhas, mas, sem que desse para perceber se estava a resultar ou não, o Metalist desfaz a vantagem logo na entrada, já depois de quase a desfazer numa inacreditável desatenção da defesa.
Sá Pinto mexe, tira Matías que nunca se encontrou verdadeiramente e mete Renato Neto, fixando a posição 6 e dando mais músculo à intermediária defensiva. Adiantou André Martins para 10 e povoou melhor o meio-campo. Antes que se pudesse, mais uma vez, ver resultados da mudança, o Metalist beneficia de um penálti muito discutível. O Sporting tinha a eliminatória em risco, porque se o Metalist marcasse, igualava o resultado de Lisboa e deixava tudo em aberto para os últimos 20 minutos. Rui Patrício volta a gritar, a plenos pulmões, "presente", defendendo o penálti e a eliminatória. O Sporting suspira de alívio e a partir daí o jogo, propriamente dito, acabou.
Sá Pinto promove mais duas substituições. Troca André Martins por André Santos, fecha ainda mais o meio-campo e troca Capel por Evaldo, fechando claramente o lado esquerdo. O técnico do Metalist, ainda tentou, metendo a carne toda no assador, mas não mais o Metalist conseguiu criar perigo eminente.

Na eliminatória com o City o Sporting foi superior em 150 dos 180 minutos, acabando por, nos últimos 30 quase deitar tudo a perder, por um assomo de identidade de última hora dos ingleses, fazendo jus ao astronómico orçamento, mas nesta eliminatória o Sporting teve mais fortuna do que pode augurar. Em Alvalade, deixou para a segunda parte as despesas do jogo, mas recuou demasiado cedo, convicto na vantagem de dois golos e ontem deu demasiado jogo a uma equipa perigosíssima e que, na minha opinião, tal como mostrou na 1ª mão, bem pressionada teria cometido mais erros, fazendo com que não se sentisse tão confortável no jogo como ontem se sentiu. Valeu-nos Rui Patrício, tanto na eliminatória com o City, como na com o Metalist e espero que nos valha sempre, mas claramente o Sporting tem obrigação de fazer mais, ter mais bola e não recuar em demasia. Tem jogadores para isso.

Na Liga Europa, segue-se o Athletic de Bilbau, do "louco" Marcelo Bielsa, um dos treinadores de que mais gosto. É uma equipa portentosa, apesar de ter a suposta condicionante de só jogarem bascos. O Sporting tem que fazer um excelente resultado em casa se quer aspirar a passar à final, porque o ambiente em San Mamés é simplesmente infernal.
Inteligentes, pragmáticos, mas a assumir aquilo que há para assumir, até porque na minha perspectiva, dar bola a um adversário destes, pode mesmo ser a morte do artista.

Apenas uma nota para o jogo de Leiria: Jogo fraquinho em que o resultado, apesar de inteiramente justo, acaba por ser a única nota de destaque. O Sporting está claramente focalizado na Liga Europa.

1 comentário:

  1. Tirando um ou outro caso pontual em que Rui Patrício me continuar a enervar ligeiramente, como é o caso do tempo gasto nas reposições de bolas em jogo, já que, esteja a perder ou a ganhar, é sempre o mesmo e sempre demasiado, pelo menos na minha opinião, ou o facto de se perceber que continua a saber chutar apenas com um pé. Tirando esses detalhes, também sempre afirmei, desde a sua chegada à equipa principal, que seria uma pena não insistir em manter Rui Patrício como titular, já que seria certo que daria um excelente guarda-redes.
    É verdade que muitas vezes me tirou do sério, principalmente com as suas saídas completamente patéticas e fora de tempo.
    Felizmente por lá foi ficando e a prova de que tínhamos razão está à vista de todos. Lamentavelmente, não acredito muito que depois do Euro possamos continuar a vê-lo de leão ao peito.
    Relativamente à restante análise, parece-me que continuamos a ver o mesmo “filme”.
    Concordo com o que escreves.
    Parece-me que continuamos a complicar sem necessidade para as vitórias serem sempre mais sofridas do que o desejável, ou não fôssemos o Sporting Clube de Portugal.
    O problema é que a sorte nem sempre poderá estar do nosso lado.
    Venham de lá os bascos do Athletic Bilbao e logo se verá como vai ser.

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